Cena do filme "Cova Rasa" de Danny Boyle
Finalmente estacionou o carro, observou um Honda Civic e uma Land Rover do lado de fora da espaçosa garagem. Encharcou o pano branco com o clorofórmio que havia adquirido ilegalmente, escondeu-o no bolso traseiro de sua calça jeans desbotada e desceu do Gol. Ao chegar ao portão, uma imensidão de pensamentos adentrou sua mente e sentiu o corpo paralisar por lépidos segundos, até que retomou a consciência e apertou o botão do interfone. Uma voz metálica, porém doce, emergiu daquela caixa eletrônica.
- Quem é?
- Sara? Sou eu... Anibal...que estudou com você no colégio Santa Maria.
Um silêncio célere, porém excruciante, cobriu de gelo a barriga de Anibal
- Ah Ani! É você! Meu Deus! Quanto tempo! Vou abrir o portão! Entre!
Os portões se abriram paulatinamente e Anibal percorreu a pequena estrada de tijolos, como se andasse sobre um arco-íris, cuja recompensa o aguardava no final. De encontro a ele, Rafael e Sara caminharam com passos levemente apressados. Abraços calorosos de Sara, um aperto de mão mais contido de Rafael e a surpresa de Anibal ao constatar que, ao contrário da sua aparência desgastada, eles mantiveram a essência de suas jovialidades. Que belo casal! Seria ainda mais belo morto!
A coloração dos lábios, a textura da pele, as ligeiras marcas de expressão em volta dos olhos, os cabelos reluzentes, a barba emergente, o perfume levemente amadeirado, os corpos saudáveis e, ainda, sedutores... Tudo era analisado por Anibal com um minimalismo cirúrgico. Enquanto isso, o casal tentava omitir a estranheza ao encarar um homem que nem sombra fazia ao jovem radiante de outrora.
- Temos muito o que conversar Ani! - A voz inconfundível de Rafael ainda arrepiava Anibal.
Iriam almoçar e, naturalmente, convidaram Anibal para o banquete. Era inevitável não notar a abissal disparidade entre aqueles sofisticados cômodos e o cubículo em que ele morava. Em meio a conversas redundantes, sentaram-se à mesa de mogno e iniciaram a refeição, que a empregada do casal havia preparado. Anibal agia com total espontaneidade, inflando o ego do casal, despejando risos expansivos e evitando imergir nas irresoluções do passado.
- Rapazes, vocês vão me dar licença, mas preciso ir ao banheiro.
Sara se retirou e foi até o banheiro no final do corredor, enquanto Anibal a observava atentamente. Era o sinal, era a chance dele. Preciso ser rápido e silencioso! Pediu licença, disse que iria observar a varanda e direcionou, imperceptivelmente, seus passos para as costas desguarnecidas de Rafael, segurou o pano e o pressionou com força no rosto dele. Quando o instinto de autoproteção de Rafael esboçou alguma reação, seus sentidos já haviam se esvaído. Em seguida, consciente de que não teria tanto tempo até o despertar de Rafael, Anibal foi aguardar Sara do lado de fora do banheiro, quando ela abriu a porta, não teve tempo de notar os dois braços que a seguraram, um envolta do seu pescoço e outro com um pano úmido na mão.
Anibal tentava dissimular frieza na execução do seu plano, porém o coração pulsava como se tivesse recebido uma dose letal de adrenalina e a barriga estava cada vez mais gélida. No entanto, as lembranças dos psicopatas insensíveis e calculistas dos filmes apaziguaram o nervosismo e o motivaram a buscar as algemas no carro, a utilizá-las no casal e a carregar cada corpo até o banco traseiro do Gol. Nossa...não pensei que...o Rafa...fosse tão pesado!
Antes de partir rumo ao prédio cinematográfico, assegurou-se de que a câmera de filmagem estava no porta-malas e com a bateria completa. Ele havia comprado o equipamento com a sua vizinha, que intencionava vender sua obsoleta câmera, já que havia adquirido uma moderna. Seu desassossego só não era maior do que os seus delírios de grandeza. Quantas visualizações o vídeo terá no Youtube?
Por Vitor Costa
A coloração dos lábios, a textura da pele, as ligeiras marcas de expressão em volta dos olhos, os cabelos reluzentes, a barba emergente, o perfume levemente amadeirado, os corpos saudáveis e, ainda, sedutores... Tudo era analisado por Anibal com um minimalismo cirúrgico. Enquanto isso, o casal tentava omitir a estranheza ao encarar um homem que nem sombra fazia ao jovem radiante de outrora.
- Temos muito o que conversar Ani! - A voz inconfundível de Rafael ainda arrepiava Anibal.
Iriam almoçar e, naturalmente, convidaram Anibal para o banquete. Era inevitável não notar a abissal disparidade entre aqueles sofisticados cômodos e o cubículo em que ele morava. Em meio a conversas redundantes, sentaram-se à mesa de mogno e iniciaram a refeição, que a empregada do casal havia preparado. Anibal agia com total espontaneidade, inflando o ego do casal, despejando risos expansivos e evitando imergir nas irresoluções do passado.
- Rapazes, vocês vão me dar licença, mas preciso ir ao banheiro.
Sara se retirou e foi até o banheiro no final do corredor, enquanto Anibal a observava atentamente. Era o sinal, era a chance dele. Preciso ser rápido e silencioso! Pediu licença, disse que iria observar a varanda e direcionou, imperceptivelmente, seus passos para as costas desguarnecidas de Rafael, segurou o pano e o pressionou com força no rosto dele. Quando o instinto de autoproteção de Rafael esboçou alguma reação, seus sentidos já haviam se esvaído. Em seguida, consciente de que não teria tanto tempo até o despertar de Rafael, Anibal foi aguardar Sara do lado de fora do banheiro, quando ela abriu a porta, não teve tempo de notar os dois braços que a seguraram, um envolta do seu pescoço e outro com um pano úmido na mão.
Anibal tentava dissimular frieza na execução do seu plano, porém o coração pulsava como se tivesse recebido uma dose letal de adrenalina e a barriga estava cada vez mais gélida. No entanto, as lembranças dos psicopatas insensíveis e calculistas dos filmes apaziguaram o nervosismo e o motivaram a buscar as algemas no carro, a utilizá-las no casal e a carregar cada corpo até o banco traseiro do Gol. Nossa...não pensei que...o Rafa...fosse tão pesado!
Antes de partir rumo ao prédio cinematográfico, assegurou-se de que a câmera de filmagem estava no porta-malas e com a bateria completa. Ele havia comprado o equipamento com a sua vizinha, que intencionava vender sua obsoleta câmera, já que havia adquirido uma moderna. Seu desassossego só não era maior do que os seus delírios de grandeza. Quantas visualizações o vídeo terá no Youtube?
Por Vitor Costa
Bom dia Vitor.. um descrição que de fato lembra muitas cenas de filmes..
ResponderExcluiroutro dia mesmo vi um que o cara matava policiais do fbi e transmitia tudo ao vivo..
números, sempre números né..
esqueci o nome rsrs pra filmes não sou bom.. mas é muito legal.. no fim ele se ferra.. a morte dele que é filmada pois a detetive conseguiu se livrar da armadilha..
tenha um lindo dia garoto fique sempre bem
Grande e lúcido poeta, muito pertinente sua observação, se não me engano, o nome do filme é 15 minutos com Robert DeNiro.
ExcluirGrande Abraço Samuel, obrigado pelo comentário.
Vi seu safadinho --' Não gostei disto de deixar a galera curiosa com um conto tão instigante quanto este. Amigo, ficou maravilhoso, e eu quero mais *.* Cadê o resto? rs Gostei da mudança do personagem pelo trauma de outrora, adoro quando uma alfinetada desencadeia imensuráveis destruições, e mesmo que não haja tanto sangue, a alma dele já se corrompeu. Essa narração está convidativa, parabéns *----*
ResponderExcluirEstive meio ausente dos comentários, fiquei doente e tal, só mobile. Mas acompanhei seu últimos posts, e agora voltei!
xoxoxo
Até mais rs
Haha A ideia inicial era escrever uma história só, caro Washington, porém, acredito que ficaria muito longo e publicar em partes é uma estratégia para aumentar o gosto pela história, espero que tenha conseguido isso com você ;-) Que bom que gostou!!!
ExcluirMas, acredito que esteja melhor agora certo? Foi algo preocupante?
Grande abraço amigo.
Poxa, leva o maior jeito pra essas narrativas, de tirar o fôlego, Vitor! Prende o leitor com habilidade, sequioso do próximo capitulo. Suspense eletrizante! Abraços, Cara!
ResponderExcluirGrande Fábio! obrigado pelos sempre sinceros e alentadores elogios, dá gosto ver que um exímio escritor como você, admira os meus contos.
ExcluirAbraços
Como sempre muito habilidoso e caprichoso com as narrativas, Vitor, parabéns. Estou, assim como os outros leitores, ansiosa pela continuação.
ResponderExcluirGostaria de ter comentado antes, mas não deu. Beijo.
Imagina Carol, o importante é que você conseguiu comentar e expressar a sua tão preciosa opinião! É uma grande satisfação que esteja gostando ;-)
ExcluirBeijos
Muito boa as descrições, bem detalhadas, puxando a gente pra dentro da trama, sem a gente nem perceber.
ResponderExcluirUm megalomaníaco com sede de vingança? Ah, já estou curiosa pra saber o que vem a seguir.
Que bom que está gostando Rosa, isso me deixou muito animado para escrever o resto!!
ExcluirSua opinião sobre o final seria de extrema importância para mim
Beijos
Caaaaaaaara
ResponderExcluirpera, antes deixa eu fazer um comentário nada a ver por causa da imagem que você usou: Cova Rasa é um dos meus filmes mais queridinhos <3
Agora SOBRE O SEU TEXTO: por acaso eu estava com essa música no repeat quando comecei a ler a parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=8rggntDwCdY
E por acaso, a faixa teve super a ver com o clima sensual da primeira fase do seu seu conto. Pra segunda parte, dei play na música do post mesmo. Requiem for a Dream <3
E então, acho que não preciso dizer que eu amei o tema. O triângulo amoroso mal resolvido, a paixão visceral - e acho que vi um pouco de você no personagem. A família dele são os filmes e a verdade é que ele seria capaz de fazer qualquer coisa uma vez que se imaginasse dentro de um deles.
Vai ter parte 3????
Eu adoro Cova Rasa também Mari, é um filme que está crescendo com o tempo. Para todos que recomendo, ninguém ficou insatisfeito com o filme. ^^
ExcluirPuts, combina perfeitamente com a parte I, Mari, se eu tivesse escutado antes, certamente eu colocaria como fundo para a primeira parte, excelente som ;-)
Só estou usando a trilha do Requiem for a dream que, na minha opinião, possui uma das trilhas mais perturbadoras e marcantes da última década. Que bom que você gosta! ;-)
O fato da família dele ter sido os filmes realmente tem muito a ver comigo, além do desejo de fazer algo original para o cinema, subvertendo os clichês. Mas, é só isso, eu ainda não participei de um triângulo amoroso hahaha
Vai ter sim, inclusive já escrevi e se você pudesse ler e dar sua tão esperada opinião, eu adoraria ;-)
Beijos
1: acabei de ligar pra minha irmã e descrever detalhadamente o seu conto, ela amou e vai ler assim que chegar em casa kkkkkkkkkkk
ResponderExcluir2: li seu comentário no meu blog, e sabe de uma coisa, você tem razão. Digo, vendo do lado "massacres escolares" me pareceu muito revoltante, e talvez por isso eu não tenha parado pra pensar no "ponto de vista: estudo da psicopatia" e aí sim, fica até interessante.
1: POxa, que foda!! Por favor, me diz o que ela achou da história ^^
Excluir2: Opa, que legal ler isso Mari, é que eu enxergei o filme desse jeito, mas o seu texto também tem muita lógica. Realmente se formos analisar o filme como a representação de um massacre escolar ele é bem inverossímil
Ai, ai, ai, Vitor. Não pare assim! Quero maais! ahauaha
ResponderExcluirEu fico aqui numa expectativa enorme, se fosse um livro viraria a noite, porque eu fico altamente presa!!
Sua narrativa prende! Parabéns. Até breve!
beijoo'o
Sensacional ler isso Simone, é um grande sonho escrever um livro ou uma série de contos, e seu comentário me enche de alento ;-)
ExcluirCalma, a última parte já está publicada hauahua adoraria uma opinião sobre o fim polêmico kkkk
Beijos
tunceli
ResponderExcluirbingöl
gümüşhane
edirne
kastamonu
Q8N