sexta-feira, 7 de outubro de 2022

MUNDO MODERNO - Poesia premiada no XXX Concurso Literário de São João da Boa Vista/SP, e que faz parte da Antologia "Poesia & Prosa", organizada pela Academia de Letras de São João da Boa Vista - 2022

Cena do filme "Paterson" de Jim Jarmush

Acordo
Olhos no celular
Notificações pelo ar
Pincelando
As (pa)redes sociais

Notícias redundantes
Regurgitadas em forma de novidade
Nada realmente relevante
Para questionar a vontade
De ser autômato

Após o desafogo intempestivo
Prevalecem as distrações
Doses cavalares de dopamina
Para fingir estar vivo
Perpetuando a sina
De humano corrosivo

Durante o tédio das ocupações
Um devaneio de um mundo irreal
Ah se pudéssemos viver de alienação e poesia
Como seres plenamente livres
Que se nutrem de criatividade
Porém somos prisioneiros das obrigações
Do corpo e do meio
Não há alegorias
Para amenizar a água fria
A louça na pia
Não há literária beleza
Nas roupas sujas
Amontoadas sobre a mesa
É preciso salário
Para preencher o armário
Nem o mais sofisticado verso
Pode consertar o adverso
O pneu furado
A conta atrasada
O alimento estragado
A tomada queimada
A poeira acumulada
Muito menos
Celestiais rimas
Podem curar cefaleias
Apenas uma bela ideia
Não é capaz de desobstruir
Uma artéria
entupida

No mundo moderno
O poeta se desbota
Torna-se um estranho dentro de si
Quando percebe
Que a realidade
E só o que existe
Mesmo assim ele insiste
Sem entender o motivo
Do seu coração conotativo

Antes de adormecer
Mais uma espiada na vida alheia
Nas telas iluminadas
Vidas transitam pelas mesmas teias
Enquanto mais um poema
(Re)nasce
Apesar do ceticismo do sistema. 

Por Vitor Costa

2 comentários: