O post anterior a este ("Marcas"), me fez lembrar de um dos mais populares (tanto no sentido de famoso e no sentido de linguagem) poemas de Carlos Drummond de Andrade, "No Meio do Caminho":
"No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra."
O entendimento deste poema é demasiadamente simples, dado que são utilizadas expressões e palavras na forma coloquial da língua portuguesa. Mas, por que "Marcas" me fez lembrar destes versos? Acho que é porque essa tal "pedra no meio do caminho" do autor realmente foi marcante para ele, dado o primeiro verso da segunda estrofe. Esta, por sinal, passa a ideia de uma pessoa já bastante vivida e até mesmo já um tanto cansada da vida, marcada pelas cicatrizes das chagas que só vivendo são adquiridas.
No entanto, não fica claro qual foi a postura do eu lírico frente a esta pedra (Carlos Drummond claramente se refere a uma dificuldade difícil de ser superada). A ideia parece ser a mesma daquela pergunta "Tem um copo com água pela metade. Você considera mais cheio ou mais vazio?". Ou seja, esta pedra pode parecer maior ou menor conforme você a encara, mesmo que seu tamanho não seja alterado de fato.
Assim, além do que o alvoroço e repercussão que este poema teve com a elite intelectual da época em que foi escrito, Carlos Drummond pode ter tido a intenção de deixar essa dúvida: a pedra foi marcante porque foi um obstáculo intransponível ou porque foi uma adversidade sem tamanho, mas com muito esforço e dedicação foi superada?
Cabe a cada um de nós, dessa maneira, identificar as nossas próprias pedras e escolhermos de que forma as enfrentaremos. Portanto, dependendo de nossa escolha, podemos até definir qual o tipo de marca que as pedras nos deixarão.
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