terça-feira, 29 de outubro de 2013

Consumo, logo existo.


Pôster do filme "Clube da Luta" de David Fincher
A mesma imagem reaparece em minha mente, a visão do topo, do mais alto andar, telas de vidro na sala, um homem estagnado observa a realidade por trás daquelas telas. Ele está de terno com uma camisa azul por baixo. Esse homem sou eu. O que isso significa? Não sei, talvez um mero devaneio incongruente ou um sinal de que ninguém escapa do consumismo, aquele parasita que vai possuindo, paulatinamente, o ser invadido.
‘As coisas que você possui acabam possuindo você.’ – Tyler Durden
Vamos ser sinceros e admitir o que está acontecendo. O que eu mais temia está se tornando realidade, quando eu era mais novo, eu observava e lia sobre pessoas que não sabiam o que queriam fazer da vida e eram pessoas com idade suficiente para já saber a resposta. E eu pensava comigo mesmo “Eu não quero ser uma dessas pessoas”. Porém, o tempo muda a nossa percepção.
‘Você não é o conteúdo da sua carteira, você não é o quanto dinheiro você tem no banco.’ – Tyler Durden

Não que essas pessoas sejam fadadas a infelicidade, pelo contrário, eu percebia que eram interessantes, o objetivo delas era não ter objetivo algum, para elas, felicidade não dependia do emprego. Porém, eu sempre quis saber o que fazer, ter uma vocação, um objetivo bem definido na vida, mas nunca tive certeza de nada, e, assim, fui guiado pela conveniência, pela necessidade de me adequar ao mercado de trabalho. Eu sei que a maioria das pessoas não se pode dar ao luxo de pensar nisso, como alguém pode pensar em vocação quando precisa se preocupar em suprir suas necessidades básicas?
‘Você não é seu emprego, você não é seu carro, você não é quem você pensa que é.’ – Tyler Durden

Algum modo de ser útil para aqueles que precisam e saber que isso me faz bem, um possível objetivo que, por enquanto, não combina em nada com o que eu estou fazendo e o que, provavelmente, irei fazer. A maioria das faculdades é só um instrumento de manipulação para manter o dinheiro como principal foco dessa sociedade falsa e corrupta. O que eu mais aprendi nesse curso foi como o dinheiro é importante, como devemos nos sujeitar a ele, como ele move nossas vidas, justifica nossos atos egoístas, alimenta nossa ganância e nos obriga a estudar matérias que detestamos, a trabalhar em empregos que odiamos para comprar coisas que não precisamos, palavras de Tyler saindo da minha boca.
Acredito que somos marionetes controladas pela insensatez do sistema capitalista. Ainda não sei o que sou, socialista, anarquista, comunista, mas de uma coisa eu tenho certeza, não sou capitalista, não defendo esse sistema desumano e repulsivo, incentivador do consumismo fútil, das relações insensíveis. Vivemos em uma sociedade, onde aprendemos, desde cedo, a valorizar o acúmulo de dinheiro como nossa principal meta, a sermos individualistas. Adotamos um modelo de vida, no qual produzir é mais importante do que contemplar, felicidade é sinônimo de riqueza material e subjetividade é irrelevante.
‘Carreira é uma invenção do século XX.’ - Christopher McCandless            

Mesmo que eu estabeleça um objetivo comum de me formar e ser um profissional competente, não serei sincero comigo mesmo, esse ainda não é meu propósito, meu grande objetivo, a minha razão de existir, talvez simplesmente não haja uma razão ou um objetivo, talvez nós devêssemos determinar nossos próprios propósitos, porém, como eu queria, ao menos, pensar comigo mesmo: “Eu realmente nasci para fazer isso.” Eu sei que ainda há muitas descobertas a serem feitas, entretanto, não sou mais um adolescente que acabou de sair do Ensino Médio, o tempo passa e as estradas vão se tornando veredas.
‘Nada melhor do que se surpreender com você mesmo.’ - Lester Burnham

Obviamente, só irei descobrir se existe algo que eu realmente goste de fazer tentando as opções que vierem a minha mente, pensar que eu poderia me sentir bem melhor fazendo outro curso me deixa impotente, indefeso, preso a uma escolha precipitada, conveniente e repleta de orgulho alheio. Talvez, em outro curso, esse texto nem existiria, mas, apesar de eu sempre fazer isso, creditar um peso maior ao passado do que ao presente não leva a lugar algum, só dá razões para lamentar e me contentar com o comodismo. Em suma, preciso transformar todo esse inconformismo em algo mais concreto, tentar algo pra valer, não desistir tão facilmente. Palavras são só palavras, não significam nada sem atitudes.
‘Primeiro você tem que se entregar, primeiro você tem que saber não temer, saber que um dia você vai morrer.’ – Tyler Durden

Por Vitor Costa

3 comentários:

  1. "Naquela época a minha vida parecia completa demais, e talvez tenhamos que quebrar tudo para construir algo melhor em nós mesmos."
    Essa frase foi retirada do livro, não lembro se ele diz exatamente com essas palavras no filme, mas enfim, sou fascinada tanto pelo filme quanto pelo livro. Demais.

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    1. Eu não me recordo se ele chega a dizer essa frase no filme com essas palavras, lembro que ele diz algo parecido:
      "É apenas depois de perder tudo que somos livres para fazer qualquer coisa."
      Eu também sou fascinado pelos dois, posso certamente afirmar que minhas concepções sobre tudo mudaram após conhecer o livro/filme Clube da Luta.
      Porém, embora ambos sejam geniais, eu ainda prefiro o final do filme do que o do livro. Para mim, soou mais impactante e sarcástico.
      Obrigado pelo comentário Dani e volte sempre :-)
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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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