domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Anti-Clichê - Parte II

Cena do filme "Cova Rasa" de Danny Boyle

Era um domingo insosso, pendurado entre a euforia do sábado e a melancolia da segunda. Seria mais um dia esquecível, a não ser por aquele arcaico Gol Quadrado que já despertava olhares curiosos na vizinhança, devido ao percurso repetitivo e a velocidade vagarosa com que se locomovia. Os pneus inquietos refletiam a ansiedade de Anibal. Já havia localizado a formosa residência da Rua 3 de Maio, todavia, antes do reencontro, resolveu vislumbrar as enormes casas do bairro nobre. Bando de burgueses hipócritas!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O Anti-Clichê - Parte I

Cena do filme "Os Sonhadores" de Bernardo Bertolucci

Sétimo andar de um prédio decrépito, o chão de concreto repleto de buracos, os vidros quebrados, quase não há móveis e os poucos ali, já estão em decomposição. Imaginem o cenário de um filme de terror, um lugar soturno, lúgubre, sem eletricidade, sem qualquer sinal de conforto, um silêncio aterrador, somente cortado por pombos que, ocasionalmente, batem suas asas em direção às janelas destruídas. Há também uma predominante escuridão, amenizada, apenas, por uma luz estridente vindo de uma desgastada câmera de filmagem. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Quase

Cena do filme "Procura-se Amy" de Kevin Smith

E eu ainda te procuro nos resquícios do passado
Nas marcas de poeira, na casa de madeira
Naquele cenário, hoje, pálido
Procuro-te em outros olhos, corpos
Portos de ilusões, 
Na seca das estações,
E só vejo fantasmas desfigurados.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Orlas do Niilismo

Cena da série "True Detective" de Nic Pizzolatto

Aviso: cuidado para não caírem no abismo, ele possui uma profundidade imensa e, uma vez lá dentro, é quase impossível sair. Aconselho a permanecerem na borda. 

E se perdêssemos o sentido de tudo? E se soubéssemos que nada vale a pena? Por que fazemos o que fazemos? E se todas as dúvidas existenciais fossem apenas um alívio para buscar significado onde não existe nada? Para que acordamos todos os dias? Seria o ser humano um animal pretensioso que, apenas, tenta justificar a sua existência e a sua importância com teorias absurdas? Somos mais relevantes que os pernilongos que matamos? O mundo seria um lugar melhor sem nós? Denominamos sentimentos que já existiam muito antes de nós? Somos um mero acidente? A vida é apenas um sonho com um significado distorcido, com o desejo de ser 'alguém'? Por que o nosso pós-morte seria diferente do pós-morte de um cachorro na rua?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Vista-me e se conhecerás

Cena do filme "Seven" de David Fincher

Só depois de raspar seus cabelos eu pude sentir aquela superfície aveludada, o crânio dela era tão macio que eu tinha vontade de amassar com um martelo, as suas lágrimas eram tão reluzentes que refletiam o meu gozo. Não vou dizer que eu não sou insano, mas e daí? Sou parte dessa merda que me jogaram, estou, apenas, devolvendo a cortesia.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Déjà vu


Cena do filme "Tempestade de Gelo" de Ang Lee

Todos estavam preparados para a ceia, cada um em seu devido lugar. Poucos eram os minutos restantes para que o ano virasse poeira e se iniciasse outro, da mesma maneira. 
A imagem era muito similar a do ano passado, as mesmas pessoas com suas metas esquecíveis:

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Amnésia

Pôster do filme "Amnésia" de Christopher Nolan

Eu perdi o contato 
Com sua pele
Quando vi seu retrato
Sorrindo com ele.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Metrópole

Cena do filme "Drive" de Nicolas Winding Refn

Ando pelas ruas e só vejo solidão, passos que não se cruzam, cabeças inclinadas, conectadas a um mundo intocável. Nem o congestionamento congelado, as buzinas incessantes, a fumaça que paira sobre os prédios, o fétido odor do esgoto me desviam o foco dos rios de gente.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Concurso de Beleza


Cena do filme "De Olhos Bem Fechados" de Stanley Kubrick

Repentinamente, Laura interrompeu aquele corriqueiro diálogo sobre as prováveis condições climáticas do dia seguinte e fitou-o com uma inusitada profundidade:

- Você  me ama, Ricardo?

A gravidade daquela pergunta o fez hesitar por alguns segundos e respondeu com a incerteza nos olhos:

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Minha Adorável Vizinhança

Cena do seriado "Chaves" de Roberto Gomez Bolaños

Na pacata sala de aula com as paredes pálidas, as cadeiras desconfortáveis e a lousa empoeirada de giz, havia um professor que, de tão alto, parecia um quilômetro parado e que desfrutava de um imenso charuto, enquanto tentava moralizar as crianças.

Dentre os alunos, havia o pseudo-rico mimado que tinha bochechas de bulldog velho, a garotinha baixinha e desbocada que tinha um choro que ardia os ouvidos, o gordinho rico e CDF que tinha uns dentes enormes, o despreocupado carinha do fundão que tirava o cara ou coroa na hora de responder as questões das provas, o garoto pobre que odiava tomar banho e que zoava todo mundo, entre outros. Ah e também havia eu, o garotinho silencioso e tímido que apenas observava a aula, tomando cuidado para continuar sendo invisível.