sábado, 24 de outubro de 2015

De Volta À Oz - Parte I

Cena do filme "O Mágico de Oz" de Victor Fleming
 
Dorothy já passara da adolescência e, há tempos, não tinha notícias de Oz.
 
Aliás, Oz já se tornara uma lembrança longínqua que foi se esmorecendo em meio ao cotidiano atarefado da jovem.
 
Absorvida pelo emprego e estudos, Dorothy conquistara sua independência como mulher bem-sucedida. No entanto, ocasionalmente, quando, do passado, as memórias ressurgiam, os pensamentos miravam a fazenda em Kansas, Totó, sua querida família e, principalmente, os seus amigos de Oz: Homem de Lata, Espantalho e o Leão. Como será que eles estão? Queria tanto poder revê-los?

Certa vez, após um dia exaustivo e estressante, Dorothy, com a mesma intensidade de quando era criança, desejou que aquele tornado retornasse e a levasse para Oz novamente. O cair ininterrupto de suas lágrimas apenas cessou quando, pelo sono, ela foi vencida. Ao despertar, seus olhos mal podiam acreditar nas imagens projetadas, os mesmos tons reluzentes, a atmosfera mágica e a diversidade imensa de cores e formas constituíam aquele ambiente familiar. É o maravilhoso mundo de Oz! 

À medida que caminhava pela nostálgica estrada de tijolos amarelos, Dorothy, todavia, foi percebendo que a abundância de seres que habitavam aquela terra já não era a mesma, as paisagens recordavam exuberantes molduras, porém, estáticas. A fadiga já estava invadindo suas pernas, quando pôde enxergar o Espantalho sentado ao lado de um rio. 

- Dorothy, que honra incomensurável revê-la! Presumi que jamais seria contemplado com sua presença novamente! Você está biologicamente crescida, porém, seu aspecto jovial permanece intacto.

Dorothy não pôde conter a euforia e o abraçou com enorme entusiasmo.

- Nossa Espantalho, como você está inteligente! Nem parece o mesmo!

Os mútuos risos foram interrompidos pela repentina mudança de tom do Espantalho

- Essa inteligência me custa a felicidade, minha jovem! Esse excesso de racionalidade me provoca tortuosas inquietações existenciais, isto é, todo esse conhecimento me torna um questionador cético que não enxerga nada interessante no mundo.

- Você está infeliz então? 

- Extremamente! Se pudesse solicitaria ao Mágico que retirasse o meu intelecto. 

- Bom, já que estou aqui, por que não vamos tentar encontrá-lo novamente? Adoraria te ajudar! - Dorothy, com seu encanto intrínseco, exibiu um sorriso alentador.

- Neste exato momento?... De fato, não enxergo empecilhos significativos para recusar sua proposta, pequena Dorothy! Sua presença aqui talvez seja uma coincidência encorajadora para que eu me retire dessa lúgubre inércia.

E partiram pelo mesmo trajeto de tempos atrás. Como em um déjà vu místico, Dorothy rejuvenescia a cada tijolo amarelo que percorria. Quando chegaram à floresta em que o Leão residia, a ansiedade da jovem estava indomável e só foi amenizada quando pôde enxergar o seu velho amigo encostado em um tronco esbelto.

- Pequena Dorothy! Como você cresceu!

Por lépidos instantes, Dorothy se perguntou o motivo de o Leão estar tão machucado e exaurido, porém, o instinto a guiou, silenciosamente, em direção a suas patas.

- Que bom te ver de novo Leão!... Mas, por que está tão machucado, amigo?

Cabisbaixo, respondeu:

- Você se lembra de que eu me tornei um leão corajoso, o Rei absoluto da floresta? Então, ao mesmo tempo, tornei-me muito imprudente... faço tudo por impulso apenas para demonstrar minha coragem e acabo me machucando sempre. Não consigo pensar no que faço. Não posso continuar desse jeito ou perderei a vida rapidamente. - Após o desabafo do Leão, um silêncio incômodo pairou no ar até Dorothy ter uma ideia.

- Leão, eu e Espantalho vamos ver o Mágico novamente para que ele o ajude a ser como era! Por que você não vem com a gente pra que ele o ajude também?

O Leão, com um rugido entusiástico, adorou a ideia e se juntou aos dois.

Durante o percurso, Dorothy perguntou sobre o Homem de Lata, mas seus dois amigos não souberam responder. A preocupação já começara a consumir sua mente, quando enxergou, à beira de um precipício, uma criatura metálica e desesperada.

- É o Homem de Lata! Não faça isso! - Dorothy gritava, ao mesmo tempo, em que corria ao encontro do seu amigo.

- Nossa! Não posso acreditar no que vejo! É a pequena Dorothy! Como você está linda! Parece um anjo! - Os olhos inundados preenchiam aquele momento com ternura.

- Por que você estava tentando se matar?

- Minha cara, após aquele encontro com o Mágico, tornei-me uma criatura muito emotiva que sofre por qualquer razão, que ama sem limites e que, por isso, coleciona frustrações e desilusões. Partiram meu coração em tantas partes que mal consigo juntar os cacos e, mesmo que eu tente colá-lo, ele sempre irá rachar. Impossível continuar vivendo assim com essa inesgotável agonia.

Dorothy não hesitou e insistiu para que o Homem de Lata viesse com eles para que o Mágico pudesse ajudá-lo. Insistiu tanto que transformou a melancolia inicial dele em vívida esperança.

E assim, como antigamente, seguiram pelos tijolos amarelos até a mesma cidade de esmeralda.
 
O 100º texto foi escrito ao som de Somewhere Over The Rainbow - Instrumental
  
Por Vitor Costa

3 comentários:

  1. Interessantíssima essa releitura do Mágico de Oz, a lá Victor, cheia de metáforas. Texto genialr. A imaginação andou solta por aqui. Abraços.

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  2. Preciso ler as outras partes. Da para você dar uma aceleradinha no resto? Fiquei suuuuuper curiosa, afinal, você sabe o quanto tenho pressa nas coisas!!! Um beijo enorme grande amigo. Júlia Jordão

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