domingo, 18 de janeiro de 2015

Orlas do Niilismo

Cena da série "True Detective" de Nic Pizzolatto

Aviso: cuidado para não caírem no abismo, ele possui uma profundidade imensa e, uma vez lá dentro, é quase impossível sair. Aconselho a permanecerem na borda. 

E se perdêssemos o sentido de tudo? E se soubéssemos que nada vale a pena? Por que fazemos o que fazemos? E se todas as dúvidas existenciais fossem apenas um alívio para buscar significado onde não existe nada? Para que acordamos todos os dias? Seria o ser humano um animal pretensioso que, apenas, tenta justificar a sua existência e a sua importância com teorias absurdas? Somos mais relevantes que os pernilongos que matamos? O mundo seria um lugar melhor sem nós? Denominamos sentimentos que já existiam muito antes de nós? Somos um mero acidente? A vida é apenas um sonho com um significado distorcido, com o desejo de ser 'alguém'? Por que o nosso pós-morte seria diferente do pós-morte de um cachorro na rua?

- Eu me considero realista, mas, em termos filosóficos, sou chamado de pessimista - Detetive Rust Cohle 

- O que isso significa? - Detetive Marty Hart

- Que sou ruim de festas. 

- Confesso que você também é ruim fora de festas. 

- Acho que a consciência humana foi um erro trágico na evolução. Nos tornamos muito autoconscientes. A natureza criou um aspecto separado de si. Não deveríamos existir pela lei natural. 

- Isso parece ruim pra caralho. 

- Somos coisas que operam sob a ilusão de ter um eu-próprio, essa acreção de experiência sensorial, e fomos programados para pensar que somos alguém, quando, na verdade, todos são ninguém.

- Eu não espalharia essa bobagem. Ninguém aqui pensa assim. Eu não penso assim.

- A coisa mais honrável para nossa espécie é negar a nossa programação. Parar de se reproduzir. Caminhar, de mãos dadas, rumo à extinção, uma última meia-noite, irmãos e irmãs deixando tudo para trás

- Então qual o sentido de acordar toda a manhã? - Detetive Marty Hart

- Digo para mim que é para testemunhar isso, mas a verdadeira resposta é a minha programação. E eu não tenho estrutura para cometer suicídio. - Detetive Rust Cohle

Diálogo retirado da série "True Detective".

Far From Any Road by The Handsome Family on Grooveshark

Por Vitor Costa

15 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Pra todo efeito existe uma causa, Victor, isso é científico. A ciência, contraditoriamente, por outro lado, acredita em Big-Ben, uma explosão casual que gerou lagartixa, barata, Roberto Carlos, Einstein... Pergunto, o que gerou a explosão de Hiroshima? Um amontoado de pedras que caindo se equilibraram numa forma familiar? Já pensei em comprar um saco de fogos e ir soltando no meu quintal e a cada explosão ver se saia um besouro voando, uma lagartixa queimada, um protozoário torrado. Não sabemos um milésimo de nada, ou como disse Sócrates, quando inquirido: "Só sei que nada sei". Abraço, cara.

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    1. Concordo com tudo o que disse Fábio!!! Não sabemos nada do que pensamos saber! Abraços

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  3. Bom dia Vitor..
    um tema bem abordado..
    acho que nada foge do plano por mais que a gente veja que esta tudo errado..
    o errado apenas quer se tornar certo..
    a gente só tem uma coisa a fazer neste plano.. e não é aquele diploma que muita gente quer de uma faculdade..
    é o diploma da vida..
    Será que quantos vão ganhar este..
    vão ganhar aqueles que forem despertando e ficando conscientes..
    abraços garoto

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    1. Sim Samuel, a consciência é o bem mais precioso que temos, com ela podemos questionar tudo até a própria consciência rsrsrs
      Obrigado pelo comentário, grande abraço

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  4. O diálogo foi retirado de uma série de livros ou de uma série de tevê?

    Essa conversa me lembrou aquela coisa de não saber se está sonhando ou vivendo. Ou se tudo o que vivemos não passa do sonho de outra pessoa. Ou mesmo, se nossas memórias não foram implantadas. A gente vê esse tipo de coisa em outras narrativas. É interessante pensar a respeito porque é uma discussão sobre a própria existência. Nunca me perguntei sobre tais assuntos por ter convicção de que não sou “programada” (ser “condicionado” é outra história).

    ✗ Emilie Escreve

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    1. Foi retirado de uma série de TV da HBO, Emilie. Se tiver tempo eu recomendo que você assista, vale muito a pena, pois foge do convencional das séries policiais, é muito mais profunda e reflexiva.

      Com programação acho que ele quis dizer que somos impelidos a seguir determinado estilo de vida e acreditar somente no que nos ensinam. Por mais que questionemos essas "verdades", geralmente cedemos às exigências da sociedade para se "encaixar". A não ser que nos tornemos "nômades" e passemos a viver fora de quaisquer regras e valores sociais, viver isolados em uma floresta, por exemplo.

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  5. Olá Vitor
    Estas reflexões acerca do existencialismo sempre me atraíram.. O sentido de nossas vidas é formulado conforme o que acreditamos, mas não sabemos verdades absolutas a esse respeito, e a vida após a morte ainda permanece em mistério.. Creio que descobrir que a vida não tem sentido algum seria algo aterrador para muitos.

    Que diálogo inspirador! Nunca assisti esta série, mas fiquei curiosa para ver.
    Um grande abraço

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    1. Pois é Vane, somos o que acreditamos ser. Petulante e pretensioso seria tentar convencer uma pessoa religiosa da indiferença da vida e vice-versa. Acho que, nesse caso, as perguntas são mais importantes do que as respostas em si.

      Assista sim ;-)
      Abraços

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  6. Logo que entrei essas palavras em negrito me chamou muito a atenção. O significado da vida as vezes é muito complexo para mim e acredito para a maioria das pessoas.
    Mas as vezes acredito que suicidio resolveria a maioria de alguns problemas, existem pessoas que não devriam estar nessa terra, porém a vida foi feita para todos.

    http://gabsgiorgette.blogspot.com.br/

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    1. Interessante teu ponto de vista Gabriella. O significado da vida é totalmente relativo, é como li certa vez: "A vida não tem sentido algum, mas não é proibido dar um sentido a ela."

      Obrigado pela visita e volte sempre ;-)

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  7. Vitor, creio que todas as questões com as quais nos presentou no início do texto, já se passaram pela cabeça de todo o mundo. Bom seria se tivéssemos as respostas, não é?
    Você é sempre fantástico, não tenho dúvidas.

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    1. Acho que se tivéssemos todas as respostas Carol, o mundo seria um caos rsrs Imagine se todos soubessem que a vida não tem significado algum, que não importa o que você faça aqui, você não terá recompensa divina, ou que o ser humano é um tipo de anomalia da natureza, que a natureza criou um tipo de "câncer" para si mesma. Seria muito mais reconfortante e alentador se soubéssemos, por outro lado, que cada um tem um propósito especial aqui na Terra e que isso transcende a própria vida. Eu prefiro acreditar nisso, porque eu preciso acreditar, não porque eu realmente acredite, entende? kkkkk
      Beijos

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  8. Eu vivo com a mente cheia de dúvidas. E são elas que me fazem sair do lugar. Se pra mim a vida tivesse sentido e eu soubesse todas as respostas, eu estagnaria.

    Mas...se eu tivesse certeza que a vida é só isso mesmo e que a morte é o fim, como uma máquina desligada, ainda assim eu continuaria produzindo minha arte e fazendo o que gosto de fazer e vivendo da forma que gosto de viver, porque mesmo que não haja sentido algum e que essa busca seja utópica, e que a certeza única é somente que nascemos para morrermos, ainda assim, eu viveria como estou vivendo, embora não deixe um dia sequer, de indagar e me espantar com o mistério de minha própria existência.

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    1. Agradou-me imensamente as suas palavras Rosa, penso assim como você, pois, independente se há ou não sentido para a nossa existência, eu tento viver da melhor maneira que posso, aproveitando cada trivial detalhe, cada paisagem, cada sorriso com a certeza de ter se sentido vivo, de ter capturado aquele instante e eternizá-lo na memória. São esses fragmentos que me fazem menosprezar as minhas inquietações existenciais.

      Beijos e volte mais ;-)

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