sexta-feira, 23 de maio de 2014

Fale Com Ela

Cena do filme "Fale com Ela" de Pedro Almodóvar

"Por que a pressa moça?
 Por que não se senta nesse banco da praça
 Diga-me o que se passa
 Eu sei que a sociedade exige a sua presença
 Porém, fique um pouco, aqui o tempo espera."

Não se preocupe com o estranho que te cumprimenta
Ele não te oferece perigo, ele só quer ser um abrigo
Para tudo o que te atormenta
Ele, pela aparência, não te julga
Nem, pelo pensamento, te devora
Ele quer entender a melancolia que te domina
Por trás do rosto de menina
E do esplendor do seu sorriso.

"Por que não apreciamos um café?
 Eu sinto que anda sufocado o seu coração
 Tanta pressão, opressão, irresolução
 O que fizeram com a sua fé?
 O pranto que, na escureza, adormece
 O receio de impor a sua vontade
 A insistente frustração que te invade
 Frutos de pérfidos beijos, falsas esperanças
 Que te puseram no peito
 As ocasiões em que te faltaram com respeito
 Em que te trataram como uma boneca de pano
 Que deplorável engano."

 Moça, não se iniba perante esses ouvidos estranhos
 Tenha clemência dos seus sentimentos
 Permita-os fluir como o sonoro vento
 Permita-os tocar a realidade
 Não interrompa o fluxo de suas lágrimas
 Nelas escorre a verdade
 Impuseram-te o papel de figurante
 Da sua própria vida, do seu utópico romance
 Transformaram-te em uma submissa amante
 Sem sombra, muda, que espreita a felicidade de relance
 Como se jamais estivesse ao seu alcance.

"E, pelo bosque, sugiro uma caminhada
 Para que a luz do sol te revigore
 Para que sinta evaporarem suas angústias
 E para que, pelas árvores, sinta-se amada."

Moça, você despejou seus reprimidos sofrimentos
Sob a face envelhecida desse fantasma
Inconformado em respirar sua tristeza
Quando, diariamente, observava-te ao relento
O espectro precisa seguir viagem
Ele espera, porém, que esses lépidos instantes
Puderam te entorpecer de coragem.

"O mundo é um mar de ilusões
 Que se renovam em forma de novidade
 Mas que são águas do mesmo rio
 O rio que afogou a sua ingenuidade
 Porém, ele não te arrasta pela correnteza
 Pois você é a rocha, na praia, despercebida
 É o metal soterrado no solo
 É força oculta, é bruta vida
 É amor sem medida."

Vitor Costa

4 comentários:

  1. Eu gosto tanto desse poema. Toda vez que leio é como se fosse a primeira.

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    1. Que bom Carol, fico extremamente feliz de saber que meu poema te agrada de alguma forma. Confesso que esse é um dos meus textos favoritos também. :-)

      Beijos e obrigado pelas suas palavras alentadoras.

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  2. Vejamos o que eu posso dizer.....
    Lindo e perfeito....rsrsrsrs
    Poeta...
    Manu

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    1. Rsrs Muito obrigado pelas palavras Manu!!

      Beijos querida.

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