domingo, 27 de setembro de 2015

Esfinge

Cena do filme "O Samurai" de Jean Pierre-Melville

Está tarde e os meus pensamentos mal conseguem se ordenar. Encontro uma caneta e tento me concentrar. Anote algo para não ser esquecido... E esqueço. 

As lembranças turvas das curvas de um caminho infindável estão se esmorecendo pelas veredas dos meus fatigados neurônios. E não há mais nada a ser dito ou escrito, além do onirismo incompreensivo. 

Os loucos pensam assim? Eles pensam? Eu preciso expressar algo que não entendo.

A vida é injusta e não faz sentido. Acho que é isso o que chamam de solidão: conhecer tudo sobre você, mas, ao mesmo tempo, nada.

Eu passo por horizontes esquecidos, viajo para o futuro e não me vejo, procuro por sinais de sanidade nas ruas da sorte, vislumbro o espaço incólume de morte preenchido. Nada que possa me explicar os motivos dessa insólita confissão.

Eu não sou mais aquela miragem do passado, sou deserto inexplorado, sem sombras nem torneiras, apenas uma imagem andando pela poeira. A imagem distorcida no vidro dos carros de luxo, na lógica da sociedade e no odor de metal que sai dos poros dos fantoches.  

A cena que invento, tudo o que escrevo não me enlouquece, justamente, porque escrevo.

Ah, lembrei o que ia escrever:

"Sobre a superfície do sol, residia um ser solitário, cuja única ambição era encontrar alguém naquele deserto de fogo, alguém que pudesse contemplar o mesmo céu que ele. Porém, por mais que todo o universo se movimentasse e o sol orbitasse outras galáxias, nada era encontrado, a não ser outras paisagens silenciosas e mortas, como a esperança daquele ser."

Essa tentativa de texto foi escrito ao som de Chromatics "Yes"

Por Vitor Costa

8 comentários:

  1. A solidão nos faz pensar assim;Sem rumo,sem saber o que quer fazer.
    Uma mistura de emoções.
    Belo texto!
    Adorei ler. Bom dia.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado Débora!! Conviver, apenas, consigo mesmo, às vezes é insano.

      Volte mais ;-)

      Beijos

      Excluir
  2. Bom dia Vitor.
    Vim agradecer a sua visita.
    Um ótimo dia pra você!
    Beijos.

    ResponderExcluir
  3. Bom dia Vitor.
    Vim agradecer a sua visita.
    Um ótimo dia pra você!
    Beijos.

    ResponderExcluir
  4. Brilhante! Tentativa de texto?! Tá de brincadeira, né? Se melhorar estraga, como se diz. Seu texto está perfeito! Muito bem ambientado, clímax psicológico envolvente, extremamente reflexivo. Ótimo, Vitor!

    ResponderExcluir
  5. Concordo com o Fábio, isso não é uma tentativa de texto nem aqui nem na China.
    Eu senti na minha pele a perturbação mental do teu eu lírico, alguém que poderia se perder em qualquer esquina, mas se perde dentro de si, das lembranças, dos medos, da solidão. Parabéns, Vitor.

    ResponderExcluir
  6. Adorei o texto! Indentifiquei-me bastante, principalmente com o fato de escrever para não enlouquecer... Às vezes me sinto tão pertubada de pensamentos, como descreveste, que só escrevendo encontro alívio...
    beijos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Essa identificação que te causei Lu, é inestimável!
      Beijos e volte mais ;-)

      Excluir