Cena do seriado "Chaves" de Roberto Gomez Bolaños
Na pacata sala de aula com as paredes pálidas, as cadeiras desconfortáveis e a lousa empoeirada de giz, havia um professor que, de tão alto, parecia um quilômetro parado e que desfrutava de um imenso charuto, enquanto tentava moralizar as crianças.
Dentre os alunos, havia o pseudo-rico mimado que tinha bochechas de bulldog velho, a garotinha baixinha e desbocada que tinha um choro que ardia os ouvidos, o gordinho rico e CDF que tinha uns dentes enormes, o despreocupado carinha do fundão que tirava o cara ou coroa na hora de responder as questões das provas, o garoto pobre que odiava tomar banho e que zoava todo mundo, entre outros. Ah e também havia eu, o garotinho silencioso e tímido que apenas observava a aula, tomando cuidado para continuar sendo invisível.
Certa vez, quando explicava sobre ciências da natureza, o professor perguntou para o garoto pobre:
- Como se chamam os animais que comem de tudo?
O garoto hesitou, pensou e respondeu:
- Como se chamam os animais que comem de tudo?
O garoto hesitou, pensou e respondeu:
- Ricos!
Outro dia, explanando acerca de primeiros socorros, ele perguntou à menina:
- O que deve ser feito quando sentimos dor no peito?
- Apagar a luz! - a garota respondeu de imediato
- Por que? - perguntou o surpreso professor.
- O que deve ser feito quando sentimos dor no peito?
- Apagar a luz! - a garota respondeu de imediato
- Por que? - perguntou o surpreso professor.
- Porque o que os olhos não veem, o coração não sente!
Não só nessas matérias que a classe demonstrava um profundo conhecimento, também nas aulas de inglês notava-se uma sabedoria exemplar:
- Como se diz leão em inglês? - Perguntou o professor ao gordinho dentuço.
- Lion
- E gavião?
- Gaviaion.
E, frequentemente, a classe era dominada por risos até que o professor gritava mais alto que as risadas, e todos silenciavam, exceto o garoto pobre que continuava conversando e ignorando a autoridade do mestre linguiça.
Na época, eu morava na mesma vizinhança que o garoto pobre, a baixinha e o bochechudo. Eu me lembro que o pai da menina era tão magro que parecia uma lombriga esticada, vivia desempregado e odiava tanto trabalhar que dizia: "Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar." Uma vez, questionado sobre a sua condição, ele disse com orgulho: "Eu sempre deixo as vagas de empregos para os mais jovens, e venho adotando essa nobre atitude desde os meus 15 anos!". Além disso, ele tinha pavio curto, era autoritário, costumava descontar a sua raiva no garoto pobre e odiava ser acordado às 11 da madrugada.
A mãe do bochechudo não era tão diferente, ela era uma viúva que pensava pertencer a uma elite que só existia na cabeça dela, tratava os outros moradores como "gentalha" e vivia de mau humor, exceto quando se encontrava com o professor, seu flerte interminável. Não raramente, o garoto pobre demonstrava o seu carinho por ela, chamando-a de velha carcomida, vela derretida, monstro do espaço... entre outros afáveis apelidos.
Havia também a senhora que morava no 71. Solteirona, solitária e esnobe, sua única companhia era seu fiel cachorro chamado, carinhosamente, de "Satanás". Ela era apaixonada pelo pai da menina e ele retribuía esse sentimento em várias situações, como na vez em que ele comentou sobre a idade dela:
- Eu não sou nenhuma velha, ouviu? Fique sabendo que eu estou apenas nos 45! - Explicando ao seu amor querido.- Só se for do segundo tempo!
O dono da vila era o pai do gordinho CDF e era tão pançudo como o filho. Visitava o lugar apenas para cobrar o aluguel dos moradores, principalmente do pai da menina, que devia somente 14 meses de aluguel. Toda vez que o barril de paletó chegava na vizinhança era gentilmente recebido pelo garoto pobre com pancadas acidentais que aconteciam sem querer querendo.
O que todas essas pessoas tinham em comum? Apesar das aparências, eram todas essencialmente boas e não eram diferentes de tantas outras pessoas que conheci ao longo da minha vida. Quando os problemas apareciam, um dava um jeito de ajudar ao outro, oferecendo a casa para morar durante um tempo, ofertando comida para quem precisasse, pagando umas férias na praia para quem nunca tinha visto o mar, entre tantos outros favores.
Eu não imaginava que sentiria tanta falta daqueles lugares e daquelas pessoas. Hoje, percebo que, certamente, aquela foi a melhor época da minha vida.
O que todas essas pessoas tinham em comum? Apesar das aparências, eram todas essencialmente boas e não eram diferentes de tantas outras pessoas que conheci ao longo da minha vida. Quando os problemas apareciam, um dava um jeito de ajudar ao outro, oferecendo a casa para morar durante um tempo, ofertando comida para quem precisasse, pagando umas férias na praia para quem nunca tinha visto o mar, entre tantos outros favores.
Eu não imaginava que sentiria tanta falta daqueles lugares e daquelas pessoas. Hoje, percebo que, certamente, aquela foi a melhor época da minha vida.
Por Vitor Costa
Sinto que morreu um pouquinho da minha infância com a morte do Roberto Gómez Bolaños,...
ResponderExcluirhttp://ladomilla.blogspot.com.br/
Ps: tire o "Prove que você não é um robô " é melhor :)
Da minha também Camyli :-/
ExcluirPs: Obrigado pela dica, já tirei isso ;-)
Beijos
Bah! Essa música >.< Faltam palavras para explicar o que foi essa série na minha vida, que começava apenas como fragmentos engraçados e aos poucos tornavam-se lições morais. Mas, putz, tu sempre usando as palavras certas, meu querido, de fato aquela magia transcendente, não apenas de Bolaños, mas da galera toda, ficará marcada, e não digo que fará uma falta infindável, pois graças a tecnologia, podemos matar as saudades a qualquer momento no youtube WIQDHIUQWHDIUHQWD'
ResponderExcluirIsso aí,
xoxoxo
Pois é Washington, muito obrigado pelas palavras alentadoras. Realmente Chaves e Chapolin eram diferenciados e conseguiam ser engraçados sem soar vulgar ou apelativo.
ExcluirVerdade, ainda bem que temos o Youtube hehehe
Abraços
Ia lendo normal, mas, nesse final, me emocionei de verdade Victor: "Eu não imaginava que sentiria tanta falta daqueles lugares e daquelas pessoas. Hoje, percebo que, certamente, aquela foi a melhor época da minha vida." Tocante.
ResponderExcluirMuito obrigado Fábio, que bom que se emocionou, isso não tem preço para quem escreve! :-)
ExcluirGrande Abraço Poeta
Muito Bom! Com toda convicção foi a melhor época da minha vida.
ResponderExcluirVinícius Piccirillo.
Sem palavras para descrever a importância da sua presença aqui Vinny, muito obrigado pelo comentário e pelo apoio de sempre!
ExcluirAbração
Boa noite Vitor.. eu fiz em versos o que tu passou em texto..
ResponderExcluirpoderíamos falar o dia todo deles..
lembro de tudo.. cada refrão, chego a falar antes do dizer .. sempre os vejo..
fato é que a morte vem.. e assim será para todos.. gênio foi e continuará sendo..
eu do meu jeito e em uma única tarde praticamente fiz poesias para todos..
só lembrando fatos como do quico..
Roupinha de marinheiro..
Bochechas de mamão macho rsrs
não vou falar o resto senão a poesia vai ser entregue né.. rss
muito bem escrito amigo.. tenha um linda noite e a vida segue né..
abraços
Com certeza Samuel, também decorei muitas passagens desses programas, mas eu adoro quando sou surpreendido por alguma piada que eu não lembrava e é como se eu risse pela primeira vez com o mesmo encanto.
ExcluirOpa, gostaria muito de ler essas poesias que você fez ;-)
Abraços
Sabe Vitor, como disse o Fábio: me identifiquei com o final e acho que ele foi capaz de dar ao texto o desfecho necessário, quando fez com que percebêssemos que isso fez parte de nós, também.
ResponderExcluirVocê sempre com essas belas homenagens fazendo com que nos emocionemos. Lindo isso, uma qualidade muito linda que você possui em transformar um dom teu em algo tão bonito. Parabéns!!!
Que bom que se identificou Carol. Adorei seu comentário e te garanto que esse não é um dom só meu, certamente você também é capaz de realizar lindas homenagens escritas ^^
ExcluirBeijos e té mais
Eu não conhecia muito de Chaves, e o que conhecia, confesso que não gostava. Mas respeito o que o seriado representou e todos os seus fãs. Como sempre, seu texto está maravilhoso, apesar de dessa vez eu não ter me identificado tanto. Como todo mundo aqui já comentou e eu digo mais uma vez: o desfecho do texto é emocionante.
ResponderExcluirMuito obrigado pelo elogio Mari, ainda mais sabendo que Chaves não é do seu agrado.
ExcluirEstava sentindo sua falta, que bom que retornou! :-D
Beijos
Que carinhoso tudo isso, que venham os discípulos que com certeza ele deixou e mais do que isso, que a simplicidade cim carinho seja mais praticada e menos comentada, enfim...
ResponderExcluirQue presença especial aqui, muito obrigado pelo comentário Tia, concordo totalmente com suas palavras ;-)
ExcluirVolte sempre!
Beijos