As montanhas, as árvores, os bosques o estavam esperando
Pertencia àquele lugar, a liberdade era a sua vitalidade
Um guerreiro silente às vozes da natureza
E quando fitava o céu, quando rodeava os campos
Enxergava a vida bruta antes de qualquer lapidação
Seria o paraíso tão sublime como aquele lugar?
Seu surgimento imponente proporcionava segurança àqueles seres
Pelos caminhos cavalgava sem rumo, porém resoluto
Um guardião altruísta, filho do anonimato, senhor de si mesmo
Seus olhos reluziam quando contemplava tamanha harmonia
Ao fim do dia, ele e seu cavalo descansavam ao pôr-do-sol
Armazenando energia para os dias de pugna que viriam
Sentia-se privilegiado por notar a vida
E quando a solidão o afligia, recorria a sua ocarina
Nela tocava as canções nunca tocadas, as mais belas jamais compostas
Comunicava-se com o mar, as relvas, os seres...
Era parte de tudo aquilo e tudo aquilo o completava
E mesmo quando as feridas da guerra permaneciam,
Quando as suas lágrimas não secavam,
Quando se lembrava do amor de outra vida,
Era só reconhecer seu lar para que o tempo o libertasse das agruras do passado.
Apesar de tantas batalhas, o cavaleiro ainda exalava disposição e coragem
Quando caía, era erguido pela natureza
Quando se perdia, os caminhos se abriam para ele
Não era um mero guerreiro que lutava por sua própria vida ou por honra individual
Sua força provinha dos seus propósitos, do seu coração humilde
E, por isso, quando o tempo absorveu a sua jovialidade, o privou de lutar como antes,
Sua falta foi sentida, seus passos se tornaram trôpegos, seu fiel cavalo já havia partido
Suas canções se tornaram lapsos de memória, ele estava exaurido,
Só restava a nostalgia, única capaz de recuperar os sorrisos de outrora.
Prostrado aos pés das grandes árvores, como um filho acolhido por seus pais
Sentia a paz que nenhum ser humano podia proporcionar
Retornava à infância perdida, aos tempos ingênuos de curiosidade
E o tempo era mero coadjuvante diante daquele lugar
Quando se sentia confuso, quando não entendia o motivo da vida
Bastava uma folha caída, uma brisa no rosto, um pássaro voando...
Para que todas as dúvidas fossem sanadas e pensava consigo mesmo:
Como ninguém percebeu ainda?
Mais um dia estava terminando, a luz do sol se esvaindo e com ela, suas forças
Ao cair da noite, percebeu que o fim estava próximo
Fechou os olhos exaustos de tanta iniquidade, adormeceu, fugiu de si mesmo
Ao reabrir seus olhos, percebeu que estava no lugar que havia sonhado
E então, fechou novamente os olhos, de modo definitivo.
O cavaleiro desaparecera do horizonte, da visão do amanhecer
Foi quando a natureza silenciou momentaneamente, sentindo o vazio que permanecera
Mas, sabia-se que o cavaleiro se tornara partícipe definitivo do seu meio
E que depois de tanto guerrear, finalmente teve o seu merecido descanso
Morreu seguro de que descobrira o sentido da vida em sua plenitude,
Sabendo que as lembranças dos seus devaneios se mesclavam com os fatos de sua vida
Deixara a finitude do tempo e do espaço para encarar mais uma jornada,
Como aquelas que adorava fazer, seja como um guerreiro austero contra seus inimigos
Ou seja como uma criança pura descobrindo a vida e os seus prazeres inexplorados.
Por Vitor Costa
Grande parte das pessoas morre sem nunca ter encontrado um grande motivo, uma força maior, um significado para fazer valer cada dia vivido; o mais bonito de todo esse contexto foi, no final, você ter deixado claro que o personagem morreu, mas levou consigo a certeza de tudo o que fizera em toda a sua vida! Estupendo, Vitor. Gosto muito de entrar no teu blog e me deparar com versos, estrofes, você tem um capricho diferenciado pra ajeitar tua poesia em linhas, sabe?
ResponderExcluirÓtima noite, parabéns.
Beijos :*
Muito obrigado Carol, seus comentários são revigorantes para mim. Pois é, o mais bonito é quando sabemos que estamos no lugar certo e que nada poderia melhorar, quando alcançamos esse estado a morte deixa de causar temor. Beijos
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