Cena do filme "Apenas Deus Perdoa" de Nicolas Winding Refn
Era
uma quarta de manhã, um calor descomunal e um TCC para apresentar.
Apesar de aparentar total tranquilidade, eu estava tenso e tomei uma
decisão que aumentou ainda mais aquele estado, a infeliz atitude de
acompanhar a apresentação de meu antecessor, cujo tema do trabalho
era similar. Ao perceber a boa desenvoltura do meu veterano ao
se apresentar e, mesmo assim, as severas críticas recebidas por
ele, principalmente, realizadas por um tal professor,
imaginei-me como seria massacrado do mesmo modo ou até pior.
Então,
com o nervosismo à flor da pele, fui me apresentar. Nunca fui bom
com a oratória, mas, especialmente naquele dia, estava
mais
apreensivo que o habitual e isso se refletia nas minhas palavras
incertas.
Após
o término da apresentação, sentei-me e esperei o impetuoso
bombardeio, porém, para a minha parcial surpresa, as outras duas
professoras que constituíam a bancada, incluindo minha orientadora,
fizeram bons comentários sobre o trabalho, só ressaltando correções
de formatação e posicionamento de alguns itens.
Entretanto,
havia ainda o outro professor, vulgo demônio dourado de olhos azuis,
pronto para destilar sua soberba sobre todos ali. Só ele percebeu
algo no trabalho que, aos olhos de alguém que possuísse bom senso,
passaria totalmente sem alardes. Tanto insistiu em seu ponto de
vista deveras exacerbado, que convenceu a minha indefesa orientadora
de que uma boa parte da revisão
bibliográfica
do artigo deveria ser reescrita, apesar dela não concordar
totalmente e iniciar uma ligeira discussão que logo o diabo obeso se
encarregou de terminar utilizando sua ortodoxia abusiva.
Resultado:
fui aprovado, mas eu tenho muitas coisas a modificar, coisas que
muito provavelmente não irei fazer por completo, até porque a
maioria delas foi fruto do capricho de um inquisidor prepotente.
Agradeçam
por não encarar o capeta albino, mesmo encoberto por aquela
aparência de urso polar inofensivo e a voz infantil.
Escrito por Vitor Costa em 06/12/2013
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