terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Ela

Cena do filme "Ela" de Spike Jonze

Meus sentimentos eram artificiais ou reais?
Eu amava a ideia que eu tinha do amor, não amava a realidade, tão cética.
Eu amava imaginar você nos meus braços, do meu lado, na minha cama, e eu poderia desabafar o mundo, esquecer-me dos meus pensamentos insidiosos.
Eu amava uma concepção, uma hipótese, quem me dera que a minha quimera fosse minha vida.
Eu amava a mim mesmo quando estava apaixonado.

Eu amava cada insignificante detalhe do meu cotidiano sorumbático e, mesmo que fosse um alívio programado, eu não me importava com o marasmo.
Era uma sensação lépida, um espasmo metafísico que transcendia a própria vida, era assim quando eu te amava, quando os meus olhos se fechavam e se cruzavam com os seus.
E mesmo você sendo uma utopia, eu atribui um sentido para a minha existência quando idealizava esse amor, nada arrancará isso do meu cerne, nem a desilusão da realidade e nem a ludibriação da aparência.
Eu amava a esperança de que o falso se tornasse verdadeiro, mesmo sendo falso por inteiro, absolutamente falso.
Meus sentimentos eram reais ou artificiais?



Vitor Costa

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