terça-feira, 29 de julho de 2014

Sintomas

Cena da série "House M.D." de David Shore


O corpo esmorecido, adoecido
Pedindo auxílio, angustiado, doído
Que dor de cabeça,
no peito, tosse ríspida que fere os pulmões
Que desalento
Secreções
Os olhos exauridos, pálpebras de chumbo
Vermelhos, remelando e umedecendo
O sono me consome, preciso dormir
Acordo e tudo está lá de novo
Nem tive tempo para sonhar,
para um lépido alívio
A febre se lembrou de me despertar
As pernas claudicantes, o tronco insustentável
Almoço injeções
Janto comprimidos
E o corpo, traiçoeiro, insinua vigor
Brinca com as expectativas
Porém, lá vem a dor
e o dissabor da vida.


Por Vitor Costa

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Flor Dourada

Cena do filme "Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas" de Tim Burton


Eu jamais imaginaria
Que no meio da estrada
Entre frutas e poeira
Eu encontraria uma flor dourada
A mais bela de toda a feira.

A sua vasta beleza era apenas o início
Pois, a cada palavra,
a cada sorriso
Maior era o encanto,
maior era o indício
De que, ao lado dela, eu estava no paraíso.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Descobertas

Cena do filme "Veludo Azul" de David Lynch


Os olhos verdes inebriados
Escondiam uma vastidão de descobertas
Dois extremos do mesmo quadro
Duas almas incompletas.



Vitor Costa

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Bicho-Preguiça

Cena do filme "O Grande Lebowski" de Joel e Ethan Coen


    Atualmente, ser educado é um exercício um tanto árduo que exige uma paciência e um autocontrole de outro planeta.

     Inúmeras vezes sinto aquela chama corrosiva invadindo o meu estômago e subindo pelo esôfago até ficar enjaulada na garganta e retroceder para o ponto de origem, queimando ainda mais na volta.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Enterrado Vivo

Cena do filme "Enterrado Vivo" de Rodrigo Cortés

Hoje eu acordei estranho
Lembrei-me do futuro e não te vi
Hoje eu acordei castanho
Embora meus sonhos sejam azuis

Hoje eu me abismei na solidão
E me afoguei no seu sorriso
Hoje você me disse "não"
Como se eu nunca tivesse existido

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Tokiopia

Abertura do filme "Enter the Void" de Gaspar Noé

         Não sei como vim parar aqui, neste quarto de hotel obscuro, essa cama que não me conforta, travesseiro austero, lençóis estranhos, definitivamente não é o quarto, onde o meu corpo adormecera na noite passada. O pânico que me consome só não é mais intenso que a minha inerente curiosidade investigativa. 

      Ao meu redor, há uma quantidade incalculável de luzes caleidoscópicas que esmorecem minhas lembranças, tal como um labirinto de cores vertiginoso.

Desencanto

Cena do filme "Terra em Transe" de Glauber Rocha

          Minha paixão por futebol vem desde a minha nostálgica infância, onde as ruas se transformavam em estádios, a latinha amassada em bola estilizada, os chinelos em traves, as crianças em Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Cafu, entre inúmeros outros ídolos que inspiravam o imaginário do povo.

           Nessa época, eu, como a vasta maioria dos meninos brasileiros, sonhava em ser jogador de futebol e vestir a mítica camisa amarela da Seleção, era o ápice de qualquer fantasia. Nesse mesmo período, eu já torcia insanamente para o clube que simpatizei de imediato, Corinthians, e tinha uma profunda admiração pela Seleção. Na verdade, eu enxergava os jogadores da Seleção como vindos de “outro planeta”, pois eu não tinha conhecimento dos campeonatos europeus, onde a grande parte deles jogava, logo, eu os considerava jogadores exclusivos da Seleção, aqueles poucos dignos de representar uma nação inteira de sofredores, uma espécie de tropa de elite do futebol.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Dançando no Escuro (Dancer in the dark, 2000)


Cena do filme "Dançando no Escuro" de Lars Von Trier

          Lars Von Trier foi um dos fundadores, junto com Thomas Vinterberg, do manifesto Dogma 95, que pregava basicamente a valorização do conteúdo das narrativas em detrimento dos seus recursos estéticos, sendo que um dos principais representantes dessa tendência foi “Os Idiotas” dirigido por Trier. Antes de aderir a esse movimento, ele realizou obras peculiares como “Europa” e “Ondas do destino”.

           Após a queda da “febre” do manifesto, Trier realizou uma das melhores obras (senão a melhor) do seu invejável currículo, “Dançando no escuro” que recebeu certa influência do movimento, mas não de modo intenso.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Autômatos

Cena do filme "Eu, Robô" de Alex Proyas

Todos seguimos um padrão, letras, números, religião
Não acreditamos em nada que criamos, então imitamos
Seguimos exemplos, modelos de vida cientificamente aprovados
Não temos identidade, apenas documentos e consentimentos.

Esperamos por milagres, pelo prêmio da loteria, pelo sorteio no programa
E imitamos o astro da novela, o policial da favela, o jogador de fama
A garota da revista, a cantora narcisista, a princesa apaixonada
Para que, um dia, sejamos notados
Para que a nossa imitação de vida vazia seja finalmente recompensada.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Mil Passados e Nenhum Futuro

 Cena do filme "O Segredo dos Seus Olhos" de Juan José Campanella

          Recentemente eu assisti a um excepcional filme argentino chamado “O Segredo dos Seus Olhos” e uma frase proferida por um dos personagens do filme me chamou especial atenção. Em determinado momento da película, esse personagem adverte o protagonista Benjamín Esposito (Ricardo Darín), que é um sujeito extremamente obcecado pelas decisões e hipóteses do seu passado, de que se ele prosseguir com sua exploração incessante, remoendo todas as minúcias daquela época, vai acabar tendo “mil passados e nenhum futuro.” Essa afirmação me fez refletir de tal forma que eu decidi visitar, pela enésima vez, o meu passado não tão longínquo e tentar compreender o porquê da minha insatisfatória situação atual no âmbito profissional. Porém, sem criações dispensáveis, suposições infundadas e possibilidades ilusórias de novos passados, pretendo me ater somente ao meu “primeiro” e único passado.

          Cá estou novamente nessa encruzilhada, mas, dessa vez, o cerco está se comprimindo e me sufocando de um modo deveras aflitivo, diferente de 6 anos atrás, quando eu parecia mais resoluto, quando os vestibulares eram minha única preocupação e meu futuro estava bem alinhado com as expectativas que eu tinha.