No fundo do copo vazio, enxergava-se resignado. Mais uma noite inútil rodeado por hipócritas suicidas. Mas o que, de fato, pensava?
O bar de paredes desbotadas, de ambiente decadente com o velho pagode de cachaça, dos esqueléticos corpos movidos a álcool, seus amigos invisíveis e fiéis.
O fundo do copo o encarava mais uma vez e refletia a pele vermelha, a barba bagunçada, a magreza extrema. Mais uma dose, Pedro! Dessa vez, a última! As tentativas de penetrar em seus pensamentos se tornaram cada vez mais ineficazes. Agora, tudo é desordem. Tudo é apenas boato.
Surpreendentemente, aquela foi a sua última dose, logo em seguida, levantou-se cambaleando, despedindo-se dos seus companheiros noturnos e levando consigo, um odor pútrido de pinga com cigarro. Ninguém sabe, ao certo, de onde veio e para onde estava indo.
Narrar uma história sem adentrar aos espaços obscuros da mente das pessoas e criar situações não é tão simples assim. Percebi que minha pretensão de onisciência é quase um vício de linguagem. Dessa vez, eu não sou deus. Eu não sei, o que, de fato, ocorreu com aquele homem. Poderia até preencher as lacunas da minha ignorância com supostos julgamentos e invenções como usualmente faço, porém, hoje vou me limitar e recorrer à falta de imaginação.
De certo, aquele homem não pensa como eu. Preferia que estivesse sofrendo com suas angústias, assim, seria mais fácil de descrevê-lo. Naquela noite, naquele bar, aquela imagem me marcou sem motivos aparentes.
Enfim, minha liberdade criativa estagnou naquele sujeito e me fez refletir que, não só escritores, como as pessoas, em geral, necessitam de significados para esconder a indiferença dos fatos, principalmente do inalienável fato de que não sabemos nada de ninguém. Só sabemos o que convém.
Por Vitor Costa
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