terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Primeiro Passo

Cena do filme "Shame" de Steve McQueen

Nunca é fácil admitir um vício, o orgulho se encolhe e o peito se abre, feito um porão de segredos que pareciam inofensivos. É deveras amargo admitir que você enganou a si mesmo e que não há mais desculpas.  

O viciado teima que não há problema, que está tudo sob absoluto controle, porém, a autossabotagem é tamanha que ofusca a verdade e, quando menos se percebe, aquilo já está afetando o seu cotidiano e o seu comportamento, empurrando-o diretamente para o mais lúgubre isolamento. 

O vício seduz os irresolutos e os que não simpatizam com a realidade ou com as suas identidades, desse modo, com a intenção de fugir das prisões externas, encarceram-se em outros presídios mais confortáveis e seguros. Prisões de segurança máxima, construídas sobre sonhos e esperanças. Lá, o viciado se satisfaz constantemente, nutrindo a sua mente e o seu corpo com gordas ilusões.

Embora tênue, o limite entre o vício e o normal não é tão difícil de identificar, mas é necessário uma auto-análise sóbria e imparcial. Quando não se sabe mais o motivo que nos leva a fazer, frequentemente, a mesma atividade é o momento de acender o sinal vermelho, ou seja, reavaliar hábitos e costumes. 

Apesar de soar simples, essa reavaliação e, principalmente, a mudança são práticas árduas que necessitam de paciência e disciplina para funcionarem. Nosso cérebro não sabe lidar com mudanças repentinas e radicais, por isso que elas não funcionam.  O que deve ser feito é uma reeducação mental, baseada em pequenas e gradativas mudanças, até que, imperceptivelmente, ocorra a extinção daquele hábito nocivo, não havendo mais vontade ou falsa necessidade. 

Diante desse contexto, vejo-me na obrigação de ser sincero comigo mesmo e ter a coragem de admitir que tenho um vício que me acompanha há anos e que, por pura negligência, fortaleceu-se de modo a me causar grandes perturbações. Dizem que o primeiro passo para se livrar de um vício é admitindo a sua existência, então estou fazendo isso com a total consciência de que mudanças são necessárias e de que é algo que ainda depende exclusivamente de mim. 

Por Vitor Costa

5 comentários:

  1. "Nas desilusões da vida, o vicio é a saída mais natural" tenho um livro aqui que tem escrito isso, Victor, algo a se pensar, é por ai, não é fácil. Vira uma necessidade básica como a fome, a sede. De tanto insistir matam o organismo no cansaço, então, o amargo vira doce, fumaça passa a ter sabor, ficar agradável, por exemplo. Abraços.

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  2. Vitor, isso tem a ver com algum filme ou é um desabafo teu?

    Só li verdades... e no momento estou lutando contra mim mesma, tentando me livrar de um vício terrível, mas está a cada dia mais difícil. Acho que só vou conseguir quando algo muito drástico acontecer ou quando eu perceber que eu sou mais importante do que essa vontade louca.

    Parabéns pelo passo.

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  3. Num momento, um texto motivacional, noutro, um desabafo, sempre: ótimo. As metáforas foram muito bem usadas, deram ainda mais força às suas palavras (recheadas de verdade universal).

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  4. eeeeei man, disciplina e paciência, duas das coisas mais difíceis de se conquistar, não acha? compreendo bem tudo isso, e pra variar, gostei da maneira como tu tornou tão íntimo esse ponto de vista, esse sentimento.

    abraços amg
    xoxoxo

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  5. Bom texto, Vitor.. Bastante reflexivo!
    Acho que a maioria de nós tem algum tipo de vício.. Alguns são mais nocivos do que outros - estes, de fato, necessitam de uma atenção maior de nossa parte. Embora este processo de se livrar de um vício não seja nada fácil, não é mesmo?
    E ótima referência, 'Shame' é um ótimo filme!
    Um grande abraço..

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