segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Déjà vu


Cena do filme "Tempestade de Gelo" de Ang Lee

Todos estavam preparados para a ceia, cada um em seu devido lugar. Poucos eram os minutos restantes para que o ano virasse poeira e se iniciasse outro, da mesma maneira. 
A imagem era muito similar a do ano passado, as mesmas pessoas com suas metas esquecíveis:

- Esse ano eu vou perder 20 quilos - Dizia a faminta tia Clarinha, ávida para devorar logo o Chester. 
- Esse ano eu vou fazer faculdade - Era o desejo do primo Celso, que odiava estudar.
- Esse ano eu vou arrumar um namorado legal - Era o que queria a prima Lívia, mesmo depois de ter superado seu próprio recorde: 6 namorados em um ano.
- Esse ano eu vou arranjar um emprego melhor - Era a esperança do tio Cláudio, depois de 10 anos de estabilidade na mesma empresa.
- Esse ano eu vou comprar um carro só para mim - Dizia Renato, meu irmão mais velho, que mal sabia dirigir.
- Esse ano eu vou viajar para fora do país - Era o anseio do meu pai, que quase não tinha tempo para sua própria família, muito menos para si mesmo.
- Esse ano eu vou entrar para a política - Era a voz da minha mãe, que nem lembrava em quem havia votado nas últimas eleições.

Só faltava a minha meta para que todos pudessem ignorar o que haviam dito e desfrutar o que realmente importava: o banquete especial.
Então, aproveitando os raros segundos de atenção que tive da família, desejei algo que eu já devia ter desejado há muito tempo:

- Esse ano eu vou parar de fazer metas.

Seguiram-se risos irreflexivos.

Por Vitor Costa

13 comentários:

  1. Bem, como peças importantes da minha família já estão em paz, o fim de ano é cada vez mais desanimado por aqui, então cenas tão peculiares não fazem mais parte da celebração. Texto genial, Vitor. Totalmente genial.
    Ah, sobre a sua pergunta no meu post, meus arrependimentos são por ação. Pessoas impulsivas quase não tem omissão. Pq a pergunta? rs
    Excelente virada, cara! Você é um dos meus blogs favoritos, e eu espero que continue com os textos maravilhosos em 2015!

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    1. Agradeço imensamente suas palavras Mari, saiba que a admiração é mútua. Espero te ler muito em 2015, você é demais ;)
      Perguntei por curiosidade mesmo, já que os meus piores arrependimentos são por omissões kkkkk
      Beijãooo

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  2. O hilário é, que neste ano — ou melhor expressão seria "no próximo ano"? — também estou bem desanimada com planos de ano novo... Quer dizer, a bem da verdade ando querendo criar uma listinha de metas, mas dessas metas que não vão me fazer me sentir uma completa inútil se, ao chegar ao fim de 2015, eu não tiver tido sucesso com muitos itens.

    A minha (curta) vida me ensinou que é melhor ser surpreendida de um jeito bom do que botar muita expectativa em algo para conseguir, como resultado, uma bela frustração. Não que agora eu seja desanimada, ou que eu não acredite nos meus sonhos, ou que eu fique esperando que o mundo, caso esteja de bom humor, conspire ao meu favor: é só que é melhor viver de uma maneira mais simples. Sorrir no fim do dia por ter aprendido a fazer uma receita diferente ou, sei lá, ter visto uma cena bonitinha na rua. Venho pondo minha fé nesses pequenos momentos. Tem sido melhor assim.

    A propósito: este foi mais um texto incrível para sua coleção de textos incríveis.

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    1. Usei "esse ano..." como expressão implícita para "esse ano que vai vir" rsrsrs

      Muito lúcido seu comentário Lari, concordo com você, quanto mais cedo adotarmos a "Teoria da baixa expectativa", mais felizes seremos, menos frustrações teremos e maior importância aos detalhes do cotidiano daremos.

      Obrigado pelo elogio Lari, seu blog é um dos que mais visito ;) Beijos

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  3. Como sempre com textos incrivelmente geniais, Vitor.
    Todo ano é a mesma coisa, você tem razão. Quase sempre são as mesmas pessoas em volta da mesa, as mesmas perguntas retóricas, os mesmos pratos, até as brigas; mas acho que não teria tanta graça se não fosse assim, esse repeat todo.
    Infelizmente aqui em casa não celebramos mais natal e nem ano novo, desde que minha vó morreu as coisas se tornaram bem monótonas, mas eu até acho melhor assim. As pessoas costumam ser extremamente otimistas (eu diria falsas) nessas datas comemorativas. Passar o ano inteiro sem olhar para alguém e ligar no dia do ano novo para desejar felicitações é extremamente comum e hipócrita.
    Parabéns pelo texto, Vitor, você é sempre de um capricho imenso. Te desejo um excelente ano novo, uma passagem maravilhosa ao lado de amigos e familiares. Muita saúde a você e família, paz e amor para inspirar mais milhares de outros textos incríveis! Se cuida, feliz 2015, adoro você. :*

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    1. Esse repeat faz parte mesmo, é cômico observar tantas promessas e metas que nunca mudam kkkk
      Concordo com você, nesse período impera a hipocrisia e os parentes escondem os problemas no tapete sem resolvê-los pessoalmente.
      Te desejo o mesmo Carol, te considero uma irmã mais nova que admiro muito e me orgulho de ter conhecido.
      Beijos querida

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    2. Que bonitinho! Lembro de quando eu disse que meu sonho era ter um irmão mais velho e você se ofereceu!!! Hahaha Valeu, mano!

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  4. Que visão foda da realidade da maioria de nós.
    A única meta minha é viver com mais leveza, o resto se eu planejar da errado. rs
    Feliz 2015, que o ano te surpreenda.

    Beijo

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    1. Obrigado Ariana. Também penso como você, quero viver cada dia apreciando mais as coisas pequenas que nele cabem. Feliz 2015 tb ;)

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  5. "Esse ano eu vou para de fazer metas", boa, Vitor! Cada dia, cada minuto, cada segundo é hora, é o agora de fazer alguma coisa, ou não fazer, desde que estivermos confortáveis em nossa mobilidade ou conformada imobilidade. Os hindus dizem que a causa de nossa infelicidade é o desejo.

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    1. Que profunda essa frase dos Hindus, caro Fábio. Acho que desejar muito faz mal à saúde rs Obrigado pelo sempre agregador comentário ;)

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  6. Que sabe se refletíssemos assim, muito do nosso ano se salvaria... Muito bom, Vítor!
    Beijoo'o

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    1. Pois é Simone, pena que, na grande maioria das vezes, o fim de ano passa despercebido como um período de festas irracionais.
      Beijos e obrigado pelo comentário ;)

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