sexta-feira, 6 de junho de 2014

Redoma

Cena do filme "O Show de Truman" de Peter Weir
Eu queria explorar o mundo
Por trás da minha imaginação, lá nos confins do desconhecido
Onde o horizonte possa se aproximar de mim
E me mostrar os sonhos velados ao seu lado, vagarosamente
Todavia, eu me sinto enclausurado nesse vasto cenário de concreto
Repleto de performances coletivas, atores e atrizes em sincronia
Há tanto tempo eu vivo nesse programa 

Cingido por câmeras ocultas, expressões sintéticas, propagandas ambulantes
Anúncios a todo o instante, comerciais, luzes artificiais
Pessoas andando em círculos
E o criador do show, de dentro da lua cenográfica, observando seus contratados
Todos prostrados diante de suas orientações, repetindo suas falas
Para que a farsa seja convincente e a audiência, crescente
E eu, ingênuo, pensando que tudo era verdade, que a minha vida era essa cidade
Tudo que conhecia e amava era um sórdido engano
Era fruto de um espetáculo vicioso, onde imitadores e imitados se confundiam
E eu, cego, nem notava o meu destino manipulado
Nem me importava com a chuva se iniciando sempre sobre mim
Com os holofotes caídos na rua ou com as máscaras pré-moldadas
Então, fui, aos poucos, percebendo que eu era o astro de uma prisão invisível
Onde o meu anseio por aventura era suprimido pelo medo
E pelo conforto de uma vida encenada
Porém, a cada dia, maior é a sede de fugir
Desbravar o mar, desvendar os finais dos caminhos que, ao longe, enxergo
É um sentimento que ninguém doma
Eu ainda sairei, pela porta da frente, dessa dissimulada redoma.
 

Vitor Costa

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