Cena do filme "Sonhos" de Akira Kurosawa
Só palavras, não há poesia nem estradas. Aqueles lugares dos meus sonhos,
nos quais a vida é simples e, de fato, tudo é simples. E por que complicar a
existência? Essa necessidade insólita de controlar a vida, buscar plenitude e,
se o fim é inevitável, por que fingir sentimentos, por que não fugir, sem
destino, sentir o que nos completa. Aquelas árvores tão distantes, as
lembranças das garotas que eu nunca amei, das festas que eu nunca fui, das
pessoas que passam despercebidas pelo meu caminho e eu, pelo delas. As noites
em frente ao mar, as ondas que eu nunca pulei, o mundo surgindo com o dia, e o
dia escurecendo minhas lembranças. As cidades, os prédios, todo o rastro de
civilização que nunca visitei e todos esses lugares me soam tão próximos.
Partes subjetivas que sempre me encontram e me recordam que racionalizar é
prosaico.
Instintos que invadem minha mente, o medo da solidão, o fim da
civilização, o princípio da vida, as correntes que me prendem às mãos do
inescrupuloso “Senhor dos Fantoches”, às formalidades meramente elaboradas e
transmitidas incessantemente. E aquela sensação familiar, construída sob os
resquícios de novidade, que dispara alarmes silenciosos durante o jantar das
diferenças, e, quem sabe, haverá um fim para todas essas imposições,
comportamentos mecânicos, lares desfeitos. O lápis esquecido na mesa da escola,
as escadas que levam para o desconhecido, as heranças de vidas que não se
completaram e a pretensiosa vontade de escrever sobre isso. Puro investimento
em negócios impróprios. O crepúsculo das ideias e a incoerência desmedida.
Por Vitor Costa
Por Vitor Costa
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