sexta-feira, 7 de outubro de 2022

MUNDO MODERNO - Poesia premiada no XXX Concurso Literário de São João da Boa Vista/SP, e que faz parte da Antologia "Poesia & Prosa", organizada pela Academia de Letras de São João da Boa Vista - 2022

Cena do filme "Paterson" de Jim Jarmush

Acordo
Olhos no celular
Notificações pelo ar
Pincelando
As (pa)redes sociais

Notícias redundantes
Regurgitadas em forma de novidade
Nada realmente relevante
Para questionar a vontade
De ser autômato

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Realista Euforia

Cena do filme "Ela" de Spike Jonze

Eu já colecionei paixões
Já vivi bem longe do chão
Idealizando homéricas ilusões
Esperando o mundo na mão 

terça-feira, 24 de maio de 2022

Toda vez que te enxergo
Sem o visor distorcido 
Noto o óbvio escondido
O amor pelo jogo perverso
Não pelo meu verso
Ou 
Por mim

Sua felicidade já me é indiferente
Não mais me importo
Se está triste ou contente
Sua existência não existe mais em mim
Que viva suas mentiras bem distante
Do alcance do meu coração.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Zona de Desconforto

Vejo as ruas frias, mesmos tons e esculturas
Nada me inquieta, nada me surpreende 
Nessas gélidas molduras
que jamais mudam.

Esse espaço físico já não me é o bastante
Rotas previsíveis, rotina tépida
O tempo não se move
Apenas aguarda
uma espera inexorável
quase cínica
pela minha estática coragem.

Prevejo meus movimentos
Ando, mas não saio do lugar
E permaneço, na redoma invisível
que, com tanta inércia, construí. 

Sinto-me aprisionado 
pela minha ilusória liberdade,
pelos meus velhos hábitos 
e desejos voláteis.

No tempo, eu adormeci
um sono plácido 
de uma vida plástica,
onde tudo é familiar
e o mundo, uma pequena casa.
Mas, o cérebro, teimoso, recusa,
esquece, abusa, foge e retorna carente.

A evolução, brado a mim mesmo,
à esmo, não ocorre 
Teias devem ser cortadas
bolhas, estouradas 
e medos, afrontados.

É hora de acordar fora da mente.


domingo, 3 de outubro de 2021

O olhar ao redor

Na era das luzes
Todo mundo enxerga
O que quiser
E ignora o que convém
Nem vem me contrariar
Pois minha opinião é baseada em fatos surreais

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

F.

Eu te olho e nada sinto
Além do puro desejo
De que seja feliz
Longe dos meus beijos

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Uma Semana

15/06/2020

Nesse ínfimo espaço de tempo
Nessa fagulha instantânea
Blinde-se, blinde-se
Das explosões, das poluições, do tédio, do vazio, do desejo, do viril
Do que lhe parte a alma
Em cacos invisíveis
Porém afiados

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Nós


Eu ainda tento te encontrar pelas estradas arruinadas do cotidiano, mesmo que seja um ledo engano, uma fantasia que se esvai ao cair do pano, um delírio instantâneo... Eu ainda insisto no misto entre sonho e realidade, um meio termo, um ponto comum que possa saciar minha insaciedade. Um amor que me ame pela metade, que me encha de vontade de me dividir, mesmo sendo indivisível. Não quero ser todo seu, deixe-me uma parte intacta, onde eu possa respirar meu próprio ar, onde eu seja capaz de me suportar em silêncio, conhecendo cada partícula que me compõe, cada forma que se opõe ao que sou, cada crise existencial que me caracteriza, cada conflito interno que me descava, que me aproxima da tão complexa aceitação. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

PÊNDULO

A ausência do sentir
A saudade que oscila
[Uma hora quente
Outra gélida]
Pendula em mim
Entre a gratidão
E o vazio.

Por Vitor Costa

quarta-feira, 10 de julho de 2019

A Formiga e a Folha

Pôster do filme "Medianeras" de Gustavo Taretto

Em uma daquelas belas manhãs de inverno, onde a luz solar se recusa a esquentar e qualquer penumbra reserva uma brisa gélida, uma formiga chama a atenção de olhos invisíveis. Estática no meio do asfalto de uma rua pouco movimentada, ela carrega uma folha, resquício de outono, com um esforço muito além da aparência. A folha é imensa perto da formiga.