Cena do filme "Vício Frenético (1992)" de Abel Ferrara
O quarto escarlate, um tanto rústico, de rachaduras e escassez de mobília, abriga Denis e a podridão do mundo.
Acende seu vigésimo cigarro, a fumaça sendo absorvida pelo resto de vida que lhe resta, os pulmões tão negros quanto a noite à beira mar. O odor de nicotina se mescla com o cheiro de perfume vencido impregnado na pele pálida de Carla. Na cama, uma vastidão de seringas, cocaína e camisinhas.
- Você sabe que hoje é minha última noite, né? - Denis, rasgando o lúgubre silêncio.
- Não, nem fazia ideia - Respondeu Carla, com os olhos rubros de heroína.
- Mas é! Não vou voltar aqui mais! Na verdade, vou mudar, vou me redimir... ser uma nova pessoa.
- Bom... boa sorte! Que tal começar me libertando?
Um mar silente consome o ambiente. Um pouco depois, Denis, abruptamente, levanta-se da cama, veste a sua fantasia de executivo e se dirige à porta desbotada de madeira, mas, não sai antes da sua última dose na veia. Pede ajuda à Carla que, estirada nua pelo colchão, parece estar em outra galáxia. Então, tenta injetar em si mesmo, no entanto, desiste da ideia e sai apressado.
Na noite seguinte, tão quente quanto a anterior, Denis, pela primeira vez nos últimos 5 anos, não foi ao encontro de Carla. De ressaca, os dias não mais amanheciam. Nem sinal daquela dopagem característica, daquela busca incessante por algum sentido na vida, daquele niilismo implacável e destrutivo.
Tempos depois, cansado de mantê-lo encarcerado em suas águas, o mar liberou o corpo, roxo e sem vida, de Denis na Praia da Conceição. O mesmo local, onde ele havia estuprado Carla pela primeira vez.
Por Vitor Costa
Poxa forte... Final surpreendente, ou nem tanto pelo rumo da carruagem. A vida vivida no vermelho, sempre em busca de... De preencher um vazio, nunca preenchido, da vida sem sentido. Haverá algum sentido na vida? As pessoas menos preocupadas são mais felizes. Ótimo, Vitor. Excelente, com sempre. Abraços.
ResponderExcluirMuito obrigado Mestre! Forte abraço!
ExcluirNossa que pesado!!!
ResponderExcluirEngraçado é o quanto a gente sempre busca preencher " vazios" com mais vazios.
E a unica coisa que faz sentido, é o não sentir da vida.
Beijo
http://minhaformadeexpressao.blogspot.com.br/
Pois é, Nathalia. troca-se um vazio maior por vários menores.
ExcluirBeijos
Forte, incrível!
ResponderExcluirO ciclo retratado no texto (o mal que vai se descontando em todos) é, infelizmente, a realidade de muitos... Enquanto vivemos, muito gente vive ao mesmo tempo em que não vive; apenas apodrece, mais e mais, por dentro.
Pois é, Lari! Muito obrigado! Há tempos que quero lhe perguntar, você tem Facebook pessoal? Adoraria me tornar seu amigo por lá também!
ExcluirBeijos.
Caramba, um texto sem duvida que nos faz pensar um pouco e com um tema não tão comum, e que é presente em nosso país.
ResponderExcluirGostei da forma como escreveste.
Estava com saudade daqui também Vitor. Ótimo 2017!
Abraço,
http://mylife-rapha.bogspot.com
Muito obrigado pela visita, Rapha! sempre uma honra! Que bom que gostou! Beijos
ExcluirOlá, Vitor. Tudo bem?
ResponderExcluirCara, terminei de ler o texto e estou sem palavras... Muito forte e com um final, que já era de se esperar, mas que traz, mas que mesmo assim choca.
Até mais. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/
Muito obrigado Renato! Vou voltar a acompanhar seu blog! Você escreve muito bem!
ExcluirAbraços
Muito bom o seu conto, é o tipo de texto que vai prendendo a atenção pelas incógnitas que cria no caminho de palavras. MEUS PARABÉNS!
ResponderExcluirMuito obrigado, Adriana! ^^
ExcluirRapaz, que texto mais incrível! É uma grande realidade em nosso país, mas que é pouco usada como tema de textos. Adorei a forma que você escreveu isso. Eu nem sei o que falar muito bem..
ResponderExcluirMuito obrigado, Carol! Que bom que gostou ^^
ExcluirPesado, mas impressionante. O uso das palavras soou como poesia, principalmente a parte que descreve os pulmões negros como a noite a beira mar. Parabéns, estou te seguindo e apesar do texto ser sobre um tema incômodo para muitos, você o fez com maestria.
ResponderExcluirMuito obrigado, Jéssica! Adoro fundir poesia em prosa e vice-versa. Prosa poética ou poesia prosaica rsrs Volte mais ;-) Beijos
ExcluirPor mais que essa pequena história seja pesada e um tanto obscura, eu realmente amei. A forma poética e muito bem escrita que utilizou no texto, amenizou de certa forma todo o contexto.
ResponderExcluirParabéns!
Adorei seu comentário, Aline! Sintetiza bem minhas intenções com o texto! Muito obrigado! Volte mais! Beijos!
ExcluirOiie!
ResponderExcluirÉ um texto lindo, mesmo que com uma história pesada. Foi muito bem escrito e o final mesmo que previsível, de certa maneira, nos tira o ar.
Beijos
Muito obrigado! Que bom que apreciou! Volte mais quando puder ;-)
ExcluirBeijos
Oi! Que texto maravilho, e ao mesmo tempo tão intenso! Desejo toda a sorte pra vc e seu blog!
ResponderExcluirhttp://my1life2in3books.blogspot.com.br/
Muito obrigado, Nathália! Te digo o mesmo! Beijos!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOii!
ResponderExcluirGente, estou no chão! Texto curto, porém muito bem escrito. Bem direto ao ponto e com um final interessante. Você podia escrever um livro!
bjs! http://devaneiosdeslocados.wordpress.com/
Muito obrigado, Camilla! Fico feliz que tenha gostado dessa forma! Um livro é um projeto antigo que quero logo logo colocar em prática! Beijos!
ExcluirQue isso, gente? Assustei com esse final, não estava esperando de jeito nenhum, meu Deus. Duas linhas carregadas de poder... E eu aqui achando que tudo daria certo para o protagonista, ledo engano. Adorei seu texto, mexeu comigo, parabéns!!
ResponderExcluirFico realmente feliz de ter causado essa reação em você! É o que mais busco ao escrever! Muito obrigado pelas palavras! Volte mais ;-)
ExcluirNossa, estou simplesmente chocada com esse final. Estava achando que o protagonista iria se redimir e seguir a vida. O tema é bastante pesado, mas traz reflexões. Gostei muito do seu texto!!
ResponderExcluirParabéns!
E de certa forma, ele não se redimiu? Tenho um apreço por temas pesados hahaha Muito obrigado pelo elogia, Maria! Beijos e volte mais ;-)
ExcluirNossa, realmente bem chocante a sua história! A forma como você narra sentimentos e sensações quase indescritíveis, bem como a descrição do ambiente nos faz sentir quase como se estivéssemos vendo tudo aquilo com os nossos próprios olhos! Você realmente domina o gênero!
ResponderExcluirQuando escrevi esse texto, tinha na minha mente que precisava descrever o máximo possível sem tentar invadir os pensamentos dos personagens, mania que tenho quase sempre.
ExcluirQue bom que gostou, Thaís! Muito obrigado e volte mais ;-)
Gostei muito do conto. Qual a real diferença de Denis, que se entrega aos prazeres, e de alguém que, como eu, seja viciado em estórias fantasiosas? Todos nós não queremos simplesmente fugir da realidade? Muito marcante e forte, e gostei muito de como conduziu o mini conto. O final passou pela minha cabeça ali no meio do texto, mesmo assim, me surpreendi. Parabéns de coração.
ResponderExcluirwww.prateleiradevidro.wordpress.com
Pois é, Giovanna! Vícios são as formas mais capciosas de cair em precipícios! Não existe vício bom!
ExcluirQue bom que te marcou! Fico feliz de ler isso! Meu sincero obrigado!
Nossa, pesado.
ResponderExcluirE é tão curto! Eu não consigo fazer isso. Parabéns.
E se você escrever uma história completa com isso? Acho que tem potencial de sair algo bem bom. Mas eu adorei o curto texto, deixa bem aberto pra interpretações futuras...
Sim, Aline. Pensei em estender a história mais e mais, mas percebi que ela seria mais impactante se fosse curta. Porém, penso sim em escrever histórias completas com detalhes maiores.
ExcluirMuito obrigado e volte mais ;-)
Oii!
ResponderExcluirAaah, contos!! Adoro. Eu fiquei meio que sem palavras para o final e acho que isso é bom ahahaha. Parabéns pela escrita! Você conseguiu me prender e adorei a ideia da música.
Beijinhos,
Muito obrigado, Ana! Que bom gostou da ideia da música! Eu escrevi com ela ao fundo! Beijos e volte mais!
ExcluirMeu Deus que texto pesado...
ResponderExcluirE você conseguiu transmitir de tudo e tão poucas palavras.
Tem muito talento, não pare nunca
Beijuh
Muito obrigado, Renata! Pode deixar que não vou parar não! ;-)
ExcluirBeijos
Nossa,que texto! Em poucas linhas vc criou um conto que me chocou...Me deixou sem palavras...Parabéns!
ResponderExcluirWww.livrosemretalhos.com.br
Muito obrigado pelo comentário! Volte mais! ;-)
ExcluirQue texto hein, infelizmente e assim mesmo, nos tentamos preencher os vazios ou até mesmo fechar cicatrizes!!
ResponderExcluirPois é, Jaqueline! É uma forma destrutiva de lidar com o vazio! Muito obrigado! Volte mais ;-)
ExcluirParabéns pelo texto, bem forte e intenso.
ResponderExcluirEsse conto faz com que reflitamos sobre os vazios que tentamos muitas vezes preencher com coisas mais vazias ainda.
Muito obrigado, Jean! Que bom que lhe proporcione esta reflexão, fico deveras feliz! Abraços!
ExcluirOlha, tenho que te dizer: não pare de escrever, esse texto é a prova que você tem talento. Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo apoio, Aninha! Isso só me motiva mais a não parar! Beijos e colte mais ;-)
ExcluirNossa, é incrível como algo pesado pode se tornar sublime com as palavras certas. Amei.
ResponderExcluirMuito obrigado, Mel! Fico muito feliz que tenha gostado assim ;)
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