Não Fui Eu!

Cena do filme "Eles Vivem" de John Carpenter

Durante essa breve estadia no "nosso" planeta, desenvolvemos os hábitos extremamente saudáveis da incomunicabilidade e da negação. Nega-se o que não se compreende, omite-se o que é inconveniente. O ser humano é assim, sempre coerente.

Por isso, se quiser se sobressair e ser bem-sucedido na sociedade, seja você mesmo, desde que seja confiante (arrogante), esforçado (obcecado), ousado (inescrupuloso) e competitivo (egoísta). Se você não for assim, lamento, não terá condições de comprar uma casa em Fernando de Noronha e o novo carro da Honda.

Mas, quem se importa? O essencial é pagar as contas no fim do mês, socializar na balada, na academia e tirar selfies com gente que nem se comunica. O que vale é impressionar, destacar-se de alguma forma, porém, não esqueça: "ser" é mais importante do que "ter", a menos que o seu amigo tenha uma namorada mais bonita que a sua, o seu vizinho, um carro melhor do que o seu, a sua irmã, um salário maior do que o seu, o seu colega viaje frequentemente para o exterior, o seu chefe trabalhe metade do que você e ganhe 50 vezes mais...

É óbvio que tudo é culpa dos políticos, da mídia e do sistema, nós, cidadãos éticos e honestos, não temos responsabilidade pela indisciplina e ignorância dos nossos filhos, pela falta de comunicação com os nossos pais e irmãos, pela desvalorização da cultura, da leitura e do conhecimento, pelo descaso com os idosos, pelo preconceito e violência contra negros, índios, obesos, mulheres, homossexuais, animais... Não precisa pensar, a culpa não é sua, é das estatísticas. 

Logo, não se preocupe tanto. Lembre-se: nada como um dia após o outro, pois as coisas vão acontecer naturalmente (inclusive a morte).

Por Vitor Costa