Cena do filme "Seven" de David Fincher
Só depois de raspar seus cabelos eu pude sentir aquela superfície aveludada, o crânio dela era tão macio que eu tinha vontade de amassar com um martelo, as suas lágrimas eram tão reluzentes que refletiam o meu gozo. Não vou dizer que eu não sou insano, mas e daí? Sou parte dessa merda que me jogaram, estou, apenas, devolvendo a cortesia.
Qual o limite da loucura? Eu sei que não é ético amarrar e amordaçar a esposa em uma cadeira de aço retorcido e torturá-la vagarosamente, retirando, suavemente, cada unha como se fosse de plástico, usando-a como saco de areia para testar minhas aulas de boxe, e mesmo o corpo repleto de hematomas e o vazamento de sangue não acionavam a minha clemência. No entanto, pergunto se é ético chupar os paus de outros caras com os mesmos lábios que me beijavam afetuosamente, se há alguma moral em trair um devotado marido durante 8 anos, dissimulando cada desconfiança que me surgia, cada dúvida com um cinismo nojento.
Semana passada, ao descobrir a visceral traição, corri ao banheiro, vomitei lágrimas e comida, permaneci horas deitado no chão, desejando que tudo fosse uma criação onírica da minha frágil mente. Quando despertei e vi as fotos, que o detetive particular havia tirado, espalhadas pela cama, percebi que estava imerso naquele pesadelo. Encarei-me no espelho, aquela face podre de vergonha foi se transformando em um rosto carcomido pelo ódio, havia liberto ali, a minha latente psicopatia. Era irreversível, assim como o vírus HIV que a cretina tinha me transmitido.
Não há nada mais a ser feito, ela já não sente mais dor, o corpo dela já não responde, ela vai morrer a qualquer momento. Estou estupefato com a minha insensibilidade perante tamanha violência. Que tipo de ser humano eu sou? Que tipo de pessoa você é? Vista minha pele, será que sou tão louco assim?
Preciso arquitetar meus próximos movimentos, afinal há canalhas que merecem sofrer. Asseguro que não serão mortes triviais, serão obras de arte elaboradas, customizadas para cada lixo que tenha se envolvido com ela. Serão inesquecíveis.
Por Vitor Costa
Bom dia Vitor.. creio que escreveste com base no filme citado que não o tenho visto..
ResponderExcluirmas pela foto e descrição deve ser muito bom..
filmes assim que mexem com nosso estomago mostram somente uma coisa.. que temos o bem e mal dentro de nós.. e temos de equilibrar o mesmo..
tua escrita é sempre muito forte, me lembra a Carol Russo
abraços e até sempre
Obrigado pelo comentário Samuel, que bom que gostou! Nossa, é uma honra receber uma comparação com a escrita da Carol, ela escreve demais! ;-)
ExcluirGrande abraço amigo.
Vítor, é sempre inquietante o refletir que você causa nos seus textos. Como as coisas são e deixam de ser!
ResponderExcluirBjoo'o
Obrigado pelo elogio Simone, eu tenho uma admiração especial por temas que desafiam a nossa moral e ética :-)
ExcluirBeijo
Cara, eu amo todos os seus textos, mas preciso dizer que esse acabou de se tornar meu favorito. Não só pela imagem (Kevin Spacey é meu ator favorito) ou pelo filme escolhido (Seven é um dos meus filmes favoritos) mas como porque eu entrei dentro dele, de forma que realmente vesti a pele do personagem quando ele assim pediu. Isso me fez lembrar um dia em que eu disse que sou romântica, e aí o colega perguntou "romântica tipo flores e poemas?" e eu respondi "romântica do tipo eu te amo tanto que se você me trair eu te mato". rs
ResponderExcluirDigo, no caso do filme Seven, fica dificil concordar com o vilão, já que eu não tenho religião, então pra mim crimes religiosos parecem não passar de delírios.
Mas no caso específico do seu texto, traição dissimulada com um vírus HIV de brinde, sério, eu não consegui discordar do personagem.
Mari, ler seus comentários é sempre um prazer revigorante! Kevin Spacey é genial, um dos grandes atores de todos os tempos, sem dúvida. E também adoro Seven, lembro-me perfeitamente de quando o vi pela primeira vez, acho que foi um dos primeiros filmes que me fizeram amar o cinema, e aquele final então!
ExcluirÉ uma situação muito complicada Mari, essa era minha intenção mesmo. Não julgar o personagem de longe, mas entrar nos porões de sua mente para provocar uma reflexão acerca de nós mesmos.
Beijos
ps: sobre seus piores arrependimentos serem por omissão, bem, eu realmente acredito que seja melhor não fazer nada do que fazer merda. kkkk
ResponderExcluirHahaha isso é relativo, a gente nunca tem certeza que vai dar merda até fazermos. Acho que a dúvida é pior Mari rs
ExcluirOlá Vitor
ResponderExcluirQue excelente texto! Intenso e muito bem escrito. Sem dúvida contempla sentimentos puramente humanos, bem como a intensidade doentia à qual eles podem chegar..
Ainda não vi o filme ao qual fez referência,mas fiquei curiosa para vê-lo, ainda mais por ter o ator Kevin Spacey (lembrei-me de sua ótima atuação em Beleza Americana).
Feliz 2015 (um pouco atrasado, rs)
Um abraço.
Obrigado Vane, seus comentários são sempre enriquecedores.
ExcluirVeja sim, embora Kevin Spacey não apareça muito tempo em cena, asseguro-te que a sua participação é inesquecível.
Abraços e um ótimo ano pra ti também ^^
Chocante e extremamente bem escrito! As atitudes do protagonista são assustadoras, mas por um segundo vesti a pele dele e compreendi seus motivos. Quer dizer, isto NÃO significa que eu ache que ele está certo, afinal como eu já disse, foi assustador, terrível o que ele fez com a própria esposa (e é terrível o que ele pretende fazer com os caras com os quais ela o traiu); só estou dizendo que a Literatura nos proporciona isto: ficar calado diante de alguns pontos de vista. Ver sentido em certas loucuras. Entender os motivos que moldaram certas personalidades. O ser humano é extremamente complexo... não dá para julgá-lo dividindo tudo o que faz apenas em "certo" e "errado".
ResponderExcluirCerto, bem confuso tudo o que escrevi. Outra coisa que amo na Literatura: as diversas possibilidade de reflexão!
Pois é Lari, é maravilhosa a liberdade inventiva que as palavras nos proporcionam, além do elevado poder de reflexão. Eu admiro vários temas da Literatura, porém, aqueles textos que nos provocam, que mexem com nossas estruturas morais e nos fazem questionar a nossa racionalidade, são os que mais me atraem. Fico feliz que tenha gostado querida!! ^^
ExcluirSeu comentário de confuso não tem nada, achei super lúcido hehe Beijão
Concordo com a Larissa, a literatura é magnifica por nos possibilitar uma infinidade de interpretações diferentes, afinal as palavras são cheias de ambiguidade em si e as metáforas então... (sou suspeita para falar delas).
ResponderExcluirEu queria ter assistido ao filme antes de vir comentar e fechar com chave de ouro a listinha que tu me passou, mas fui enrolando a mim mesma: "amanhã eu assisto, sem falta".
Achei o teu texto genial, escrito com maestria e de capricho imenso. Eu tenho certa curiosidade por mentes insanas, fico me perguntando o que leva uma pessoa a pensar ou agir de determinadas formas... E convenhamos, histórias como essa não ficam, infelizmente, somente na ficção. Me deixou ainda mais interessada e curiosa para assistir, vamos ver se nesse fim de semana tomo vergonha e vejo, hehehe :v
Parabéns pelo texto: sempre se supera!
Obrigado pelo sempre alentador comentário querida Carol. Não digo que baseei a história toda no filme, até porque os motivos do serial killer no filme são bem diferentes e bem mais insanos, ou não rsrs Mas, assista sim, é um filme que vai demorar para sair da sua cabeça rs
ExcluirInfelizmente não ficam na ficção e é inevitável não ficar nos perguntando o que faríamos nessa situação, a propósito, que você faria? rs
Beijos querida!!!
Já assisti o filme, Vitor! Caraca, sensacional. Realmente encerrei a tua lista com uma grande chave de ouro. Os atores são incríveis, a trama em si é fantástica e o final... cara, o que dizer?
ExcluirA situação de ser traído, você diz? Bem, eu me vingaria, de certo, mas não seria tão malvada assim [eu acho muahahaha]. No caso, se fosse meu namorado eu quebraria todas as coisas que ele mais gosta: a moto, os videos games, a loja de informática, os computadores. Não sei, eu acho que seria assim. Ou daria o troco, hahaha.
Você tem jeito de que, se fosse traído, não faria nada. Eu acho...
Beijão Vitor.
Que bom que você gostou do filme Carol!!! É um dos melhores filmes que já vi!!
ExcluirHahaha Interessante o seu plano de vingança, se eu fosse seu namorado, não te trairia nunca hahaha
Então, se fosse uma traição comum, acredito que eu não faria nada mesmo, só desprezaria e ignoraria a pessoa pelo resto da minha vida, porém, se ela me passasse Aids, aí eu acho que eu faria alguma besteira, eu já estaria condenado mesmo haha XD
Beijos Carol
Ok, acho que esse é o primeiro conto seu que leio nesse estilo. Estou um pouco surpresa. Odiei o protagonista, claro (mais por razões pessoais...nada contra criar um personagem assim). rs. Fico me perguntando se em seguida ele não estaria planejando torturar os amantes da mulher...
ResponderExcluirP.S.: Eu estava checando os comentários de um conto antigo e vi a sua reposta ao Lucas (obrigada por me defender, ele foi rude)
••● @ emilie
Realmente eu não costumo escrever textos tão perturbadores assim, ainda mais em primeira pessoa Emilie, mas fico feliz que tenha te interessado. O final do texto dá essa ideia de continuidade das mortes dos amantes dela rsrs
ExcluirP.S.: Imagina Emilie, eu acho que ele estava insistindo em um ponto de vista que não fazia sentido ali, ele estava depreciando o seu conto em prol de um raciocínio frágil, tive que discordar totalmente. rs
Beijos
baaaaaaah como eu acho doce e inspiradora a vendeta <3 Vi, amei como colocou tanta cena e tantas possibilidades nestas palavras, questionei-me até mesmo da possível rivalidade do bem e o mal inato ao homem, de fato seu persona comenda da sanidade, mas será ele insano? ou o que de fato pode ser julgado como insano? eu apoiaria a atitude por ter minhas considerações sobre traição, mas as opiniões são tão diversas *.* inspirador e polêmico, adorei seu conto *---*
ResponderExcluire seven é sinistro *.* rs
xoxo
Que bom que gostou caro Washington. É exatamente esse tipo de questionamento profundo que quis levantar, até onde vai a nossa moralidade? Até onde vai a nossa racionalidade? Talvez a maioria não fosse tão sádica de torturar a pessoa desse jeito ou talvez fosse? Obrigado pelo elogio amigo.
ExcluirRealmente, seven é demais rs
Abraços
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPuta que pariu!!! (nem precisa me perdoar pelo palavrão)
ResponderExcluirQue enrendo, hein?!
Criatividade cinematográfica, surreal, doentia e espetacular.
Poder ter continuação, porque me instigou muito.
Sem dúvida alguma, eu assistiria um filme dirigido e escrito por ti.
Tu és demais.
Que comentário foda hein Hellen rs Sem palavras para te agradecer os elogios.
ExcluirNão descarto uma continuação, mas ainda não pensei nela, talvez a sua sugestão me motive mais ;-)
Poxa vida, é o meu mais íntimo sonho Hellen, escrever e dirigir um filme seria fantástico!!!!
Beijos